Dois momentos da vida de Catherine são intercalados: momento presente e quatro anos antes. No decorrer da leitura, o pensamento de pular os capítulos de 2007 e 2008 e correr a história do passado completa e depois ir pro atual torna-se quase irresistível. Não pela ansiedade, mas pela chatice dos capítulos curtos, pelo pula-pula de tempos, um recurso para segurar o suspense, porém nos deixam com impaciência e quebra muito o ritmo da leitura.
Então fica a dica: se quiser ler o livro como Cortázar em "O jogo de amarelinha", quando os capítulos são pulados, sintam-se aconselhados a seguir esse instinto.
A trama é interessante, um suspense bom, que prende, como "Restos Humanos", também dela. Está na fila de leituras "A vingança da maré". Está ali, só esperando.
A trama é a seguinte: Catherine é uma solteira convicta de 28 anos, sai muito à noite, namora(e transa) bastante, curte a vida com os amigos, até conhecer Lee, um charmoso, bonito, carismático, elegante, interessante e misterioso espécime da raça masculina. Testosterona pura. E entrega-se demais, espera demais, confia demais e, quando percebe, está com ele em sua casa, morando juntos, pretendendo casar, mas logo ela começa a perceber que o real Lee não era o doce e maravilhoso que tentava demonstrar. Por trás, um homem violento, egoísta, que mente, disfarça, invade, a vigia, prende. Leva uns sopapos e quase morre, salvando-se milagrosamente. Aí vem (vem não, se desenvolve em paralelo), quatro anos depois, Lee já na cadeia, a estória paralela com ela refazendo a vida em Londres, com transtornos emocionais traumáticos, conhece o psicólogo Stuart, vizinho do apartamento de cima, que a faz querer mudar e melhorar, mas ela já não é a Cathy de antes, é outra mulher, com sofrimento da alma impregnado em seus dias e sua rotina.
Os relatos do TOC são bem detalhados, impressiona, sentimos a angústia da ansiedade de quem sofre o transtorno.
Vale a pena o suspense, uma boa leitura.
"Então assumi o controle, passei a monitorar cada minuto do meu dia,
cronometrando as coisas obsessivamente, contando meus passos, planejando
horários para tomar chá; aquilo me deu um propósito, me deu um motivo
para colocar um pé à frente do outro a cada dia, por mais podre, sombria
e solitária que eu me sentisse."
"Sempre achei que mulheres que continuavam levando adiante um
relacionamento violento e abusivo só podiam ser umas idiotas. Afinal, em
algum momento elas deveriam ter percebido que as coisas tinham saído
errado e que, de repente, haviam passado a sentir medo do parceiro — e,
sem dúvida, era este o momento de terminar a relação. Deixá-lo sem
pensar duas vezes, foi o que sempre pensei. Que motivo elas teriam para
continuar? E eu já vira mulheres na televisão ou em revistas dizendo
coisas como “Não é tão simples assim”, e eu sempre pensava, claro que é,
é simples, sim — apenas vá embora, afaste-se dele."