quinta-feira, 30 de novembro de 2017

A vendedora de fósforos - Adriana Lunardi


Editora Rocco /2011
Romance brasileiro 
192 páginas 

Dois "eus" e seus familiares nominados pelo cargo que ocupam: minha irmã,  irmão, pai, mãe, avó, avô, tio. Claro que um só exemplar de cada espécie para não confundir.
Falando em confundir,  quem fala? Desafio o leitor a descobrir junto: qual voz fala, se ambas ou a irmã  mais velha ou a mais nova? 
Vamos à trama: a irmã mais velha (conclusão minha) é avisada que a mais nova, que não vê há uns 5 anos, tentou suicídio mais uma vez. Decide então voltar à cidade que morou para vê -la. Nessa volta, memórias do passado de uma família itinerante, que se movia de acordo com o emprego do pai contador, mescla a mãe ausente, fria, depressiva, a irmã (que pode ser a mais velha ou mais nova, dependendo da narrativa, tem de ter atenção), o pai inconsequente, o irmão alheio que não diz nada na primeira pessoa ou plural. Começa a lembrança aos nove anos.

"Da janela,  dava para se ver a planície circundar a cidade e se estender sem obstáculos até a fronteira do Brasil, onde um tímido ajuntamento de montanhas azuladas se.erguia somente para dar fôlego aos olhos, que nunca alcançavam o fim daquele quintal chamado pampa."

A infância da narradora se ambienta no sul do país, o pai mudando entre cidades, quando tinha de abandonar um emprego na busca de outro em sua saga de contador endividado. Antares é a cidade que tem uma volta, não  apenas uma passagem. 

"Arranjei a profissão ideal para você. 
Tem a ver com o mar?, eu quis saber, ainda magoada com o que ela dissera antes.
Hm-hm. Tem a ver com o mar, vulcões, montanhas, tudo o que você gosta. 
Dá pra ir ao subterrâneo?
Para onde você quiser. Atlântida, Itália, China, o espaço sideral.
(...)
Escritora, minha irmã disse, espalhando bem as sílabas. Você pode ser uma escritora."
Adriana Lunardi

A irmã mais velha diz à mais nova que ela pode ser escritora,  mas acaba ela mesma sendo. 
A mesma irmã que tentara suicídio.  Que "aos treze, aos dezesseis, aos vinte e um, e de novo. É tão difícil assim se matar? "

"Tendo concluído o ensino médio, minha irmã passou a dormir de manhã, alegando estudar com mais sossego à noite, para o vestibular do fim do ano". Por vezes fica claro que a narrativa é feita pela caçula. 

"A morte tem esse modo obsceno, exibicionista, de impedir o esquecimento. Zomba do esforço que fazemos para aceitar a perda, ameaçando apanhar as lembranças que restam da pessoa morta"

Razoável. Confuso. Extremamente bem escrito: vocabulário, técnica. Mas não recomendo.

Adriana Lunardi
Nasceu em 1964 na cidade de Xaxim, Santa Catarina. Graduada em Comunicação Social e mestre em Literatura Brasileira. Viveu em Porto Alegre até 1999. [Fonte: Wikipedia]

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Fantasma sai de cena - Philip Roth

Título original: Exit Ghost
Publicado originalmente em 2007
Tradução: Paulo Henrique Britto
Editora Companhia das Letras

Nathan Zuckerman (a volta de Zuckerman de outros livros do autor) tem 72 anos, escritor que decidiu se isolar numa propriedade rural e deixar o contato com notícias, cidades, público. Inicialmente a decisão foi gerada por cartas anônimas com ameaça de morte que recebia. Porém, decide voltar a Nova York para tratar sua incontinência urinária persistente que o acompanha há uns 7 anos, desde sua cirurgia para tratar o câncer de próstata. No hotel, percebe um anúncio que propõe uma permuta por um ano de um apartamento em Nova York por uma propriedade bucólica afastada. Com impetuosidade, decide se propor ao negócio e se encontra com Billy e sua esposa Jamie, por quem desenvolve uma paixão platônica. Paralelamente, é importunado pelo aprendiz de escritor Kliman, que se propõe a escrever a biografia de um amigo lá do seu  passado distante e já falecido, Lonoff. O insistente candidato a biógrafo também é amigo de Jamie. 
O personagem, idade, personalidade do Zuckerman não surpreende no livro de Roth, já que, em sua maioria, seus livros possuem seu alter ego estampado. Porém surpreende o livro tão indigno do autor, de quem sou fã ardorosa. Não empolguei, como na maioria de suas obras, seja pela monotonia, pela falta de consistência dos personagens, pela trama fraca. 
Philip Roth
Já que se trata de Roth, vale a pena. Mas leia todos os demais dele antes de chegar ao fantasma que infelizmente não é fantasma de fato.

"Eu viera para Nova York apenas por conta da promessa daquela intervenção cirúrgica. Viera em busca de uma melhora. Porém, ao sucumbir à vontade de recuperar algo perdido — um desejo que havia muito tempo eu vinha tentando conter — eu me abrira à crença de que me seria possível, de alguma maneira, voltar a ter o desempenho do homem de outrora. Havia uma solução óbvia: no tempo que levei para voltar ao hotel — e me despir, tomar um banho e vestir roupa limpa — resolvi abandonar o plano de trocar de residências e voltar imediatamente para casa."
(ROTH, 2007, p. 72)

"ele : E pode haver uma razão maior do que essa?
ela: Fugir da dor.
ele: Que dor?
ela: A dor de estar presente.
ele: Você não está falando de você mesma?
ela: Talvez. A dor de estar presente no momento presente. É, isso também se aplica muito bem à coisa extrema que eu estou fazendo. Mas pra você não era apenas o momento presente. Era estar presente. Estar presente na presença de qualquer coisa."
(ROTH, 2007, p. 89)
 
Philip Roth
Nasceu em 19 de março de 1933, Newark, Nova Jersey, EUA. Romancista norte-americano, associado pela sua educação e temática literária à comunidade judaica. É considerado um dos maiores escritores norte-americanos da segunda metade do século XX.
Grande parte da obra de Roth explora a natureza do desejo sexual e autocompreensão. A marca registrada da sua ficção é o monólogo íntimo, dito com um humor amotinado e a energia histérica por vezes associada com as figuras do herói e narrador de O Complexo de Portnoy, a obra que o tornou conhecido.
[Fonte: Wikipedia]

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

O jardim de cimento - Ian McEwan

Editora Companhia de Bolso
129 páginas
Sem dados de tradução
Julie, Jack, Sue e Tom são uma escadinha de filhos que ficam órfãos de pai e, pouco tempo depois, também de mãe. Menores de idade, ao perceber que iam se separar, indo para abrigos e orfanatos, decidiram não comunicar às autoridades a morte da mãe. O que fazem com o corpo? Escondem num baú cheio de cimento no porão da casa.
A voz que conta a trama é Jack, quinze anos, e em pleno auge hormonal adolescente, tem atração pela irmã Julie, a mais velha da turma.
A ideia do livro é boa, porém torna-se monótona, repetitiva, personagens que reagem com  igual frieza em morar numa casa onde, no porão, está a mãe morta.
Livro regular. Mas tinha nada potencial para ser bom ou ótimo.  

Ian McEwan
Nascido em Aldershot, 21 de Junho de 1948, é um escritor britânico, chamado por vezes de “Ian Macabro”, devido à natureza das suas primeiras obras, e que de romance a romance se tem convertido em um dos mais conhecidos da sua geração.
Passou parte da sua infância no Extremo Oriente, na Alemanha e no Norte de África, já que o seu pai era um oficial do Exército Britânico que foi colocado sucessivamente nesses locais. Estudou na Universidade de Sussex e na Universidade de East Anglia, onde teve Malcom Bradbury como professor. A primeira das suas obras publicadas foi a coleção de relatos Primeiro amor, últimos ritos (1975). Em 1998, e causando grande controvérsia, foi-lhe concedido o Prémio Man Booker pela novela Amesterdão. Em 1997 publicou O fardo do amor, considerada por muitos como uma obra-prima sobre uma pessoa que sofre do síndroma de Clerambault.
Em Março e Abril de 2004, uns meses depois do governo britânico o convidar para jantar com a Primeira Dama dos Estados Unidos (Laura Bush), o Departamento de Segurança Nacional deste país impediu-o de entrar por não ter no passaporte um visto apropriado para trabalhar (McEwan estava a preparar uma série de conferências remuneradas). Só vários dias depois e de se tornar público na imprensa britânica é que se lhe permitiu a entrada.