Tertuliano Máximo Afonso, professor secundarista de História, assiste a um filme chamado "Quem Porfia Mata Caça" por sugestão de um colega professor de Matemática para lhe distrair e sair da depressão-tédio-vazio momentâneo. Porém, na fita, encontra a si mesmo num ator de papel coadjuvante atendente de um hotel. Tal qual olhar-se num espelho, ao tempo do filme, alguns anos atrás. O professor fica abalado, resolve investigar quem seria sua cópia, enquanto está às voltas com o relacionamento morno com a bancária Maria da Paz. Descobre que o ator que tem nome artístico Daniel Santa-Clara, de batismo Antônio Claro, casado com Helena. Encontram-se e Tertuliano desperta a curiosidade na sua cópia, ou ele seria a cópia do tal igual. Até que esse dito tal tem desperto a sua vaidade e cobiça e quer se passar por Tertuliano para uma noite de amor com Maria da Paz.
Para quem conhece Saramago, acostumado com seus livros sem pontuação, sem delimitação de diálogos, um ótimo livro, mesmo não sendo o melhor escrito por ele.
Foi transformado em filme em 2014. A película deixa passar muitos detalhes importantes e cria novos fatos (como sempre em filmes baseados em livros), fugindo da fidelidade ao autor. Nele, ao final, Tertuliano, que nem o nome foi preservado, em residência do Antonio Claro, ao abrir uma porta para procurar Helena, vê uma aranha gigante, uma analogia à passagem inicial, quando o ator está em uma sala e segue um ritual onde mulheres são expostas a aranhas, observadas por vários homens, tal seitas secretas. Também poderia ser um bordel, as prostitutas expondo seus corpos aos homens. Nessa cena, uma das mulheres deixa escapar uma aranha da caixa que carrega e a esmaga e Antonio Claro assiste com a mão no rosto. No meu pouco entendimento, as aranhas seriam representações de mulheres e teias de aranha podem ser observadas no decorrer do filme. Há também a interpretação que o professor seria o alter ego no ator e representaria a liberdade, já que a esposa de Antonio tenta superar o ciúme - fato quase inexistente no livro, mas com ênfase no filme, sem falar na gravidez de Helena, que não há no exemplar.
Tentar explicar o livro com o filme ou vice versa é sem sentido. Cada um tem sua interpretação própria, eu não vi um no outro, a não ser o fato de um homem encontrar-se duplicado numa outra pessoa.
O livro vale a pena, o filme nem tanto.