quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A menina má - William March

A Menina má / título original: The bad Seed
William March
Literatura norte-americana/ Ficção/suspense
Ano de publicação: 1954
Tradução: Simone Campos
Editora: Darkside

Rhoda Penmark é uma menina encantadora de oito anos, que sabe conquistar os adultos, pontual, aplicada, organizada e bem madura para a idade. Tanto que foi expulsa de um colégio por não se enquadrar nos padrões infantis. Pelo menos foi o argumento usado pelos diretores. Também é decidida, nada fica no caminho do que deseja. Qualquer obstáculo ela destrói. Literalmente, inclusive com a capacidade de matar. A mãe dela, Christine Penmark,  uma linda loira e descobre que a índole da filha não são tão inocentes e adoráveis quanto a garotinha tenta transparecer. Então decide investigar comio uma criança pode possuir os instintos e atitudes que percebe na filha. Então ela descobre a verdade sobre si mesma, o passado. Culpa, indecisão,  crise. Christine tem de decidir o que fazer com a pequena psicopata que gerou, percebendo que a hereditariedade poderia falar mais alto e os desastres seriam monumentais.
Muito bom o livro.
 "(...) A menina, quase desde bebê, tinha sido uma espécie de charada tanto para ela quanto para o marido. Era algo difícil de precisar ou identificar, mas havia uma estranha maturidade no caráter da menina que julgava perturbadora. Tanto ela como o marido haviam pensado que uma escola como a delas, uma instituição que enfatizava disciplina e as virtudes à moda antiga, seria a escola ideal para Rhoda - que eliminaria, ou pelo menos modificaria, alguns dos fatores desagradáveis do seu temperamento"
 

Quando voltará a ser como nunca foi - Joachim Meyerhoff

Quando voltará a ser como nunca foi
A loucura está do lado de dentro ou de fora?
Joachim Meyerhoff
Editora Valentina / Ebook / 2016
Literatura alemã
Tradução Karina Janini

Um menino cresce num hospício, entre os adolescentes pacientes que são internos, onde o pai é o médico responsável, diretor do  hospital e reside na casa construída dentro do prédio-hopício. E é a voz desse menino que narra em primeira pessoa estória, enquanto cada um na família tem seu papel bem detalhado: a mãe que questiona sua rotina, os irmãos em seus mundos, enquanto o menino convive com os realmente ausentes, a criança hóspede que tem seus problemas, que ele observa e entende. Talvez pela familiaridade de tê-los por perto, acostuma-se, supera os medos, sente pelos que se vão.
Um bom livro. Recomendo.

"Todos as manhãs, eu percorria a metade do meu caminho para a escola atravessando o hospital psiquiátrico, onde sempre encontrava os mesmos pacientes. Assim eu saída do jardim na frente da nossa casa por um portãozinho, via sentado, logo noprimeiro banco, um rapaz que adorava fumar cigarros em uma única tragada. Ele ficava esperando meu pai, que costumava lhe dar um dos seus Roth-Händle.(...) e ficava ali sentado, envolvido numa fumaceira, com os olhos enevoados de felicidade."

"Minha mãe sempre fora uma  pessoa exageradamente assustada, e meu pai, um homem pesado, com pendor para a letargia. A perda do filho potencializou essas características, tornando-as ainda mais nítidas. Como uma faca afiada, ela descascava a dor do seu equilíbrio que, durante anos, talvez tenha sido apenas simulado.
(...) Ja meu pai, em sua poltrona, parecia ter ficado tão pesado de sofrimento como nunca  antes. Como se sua carne tivesse se transformado em metal maciço. Nenhum guindaste no mundo seria capaz de içar da poltrona aquele homem de bronze que a vida havia quebrado"

"Cada vez mais tenho a impressão de que o passado é um lugar ainda mais inseguro e instável que o futuro. O que deixei para trás não deveria ser algo seguro, concluído, que já fora e só esperava pela frente não deve ser o chamado futuro a ser moldado? E se eu tiver de moldar meu futuro? E se de um passado permeado e moldado puder surgir algo  como um futuro em aberto? É um pensamento opressivo, mas, de vez em quando, a vida que tenho pela frente me parece um trecho feito sob medida para mim, a ser inevitavelmente percorrido, uma linha em que vou me equilibrar com cuidado até o fim."

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O tio Sylvester - Georgette Heyer

O Tio Sylvester
Georgette Heyer
Ebook A Estrada dos Livros

Phoebe Marlow é uma jovem que escreve novelas e seus personagens se baseiam nas pessoas que conhece ou passam pela sua perceção. Como todo romance de banca, uma moça inteligente à frente de seu tempo.
Numa de suas novelas, cria um personagem baseado no duque de Salford, Sylvester. E o arrogante duque procura uma esposa, consultando sua madrinha que também é avó de Phoebe. Logo ele se interessa pela jovem que poderia ajudá-lo na criação de seu sobrinho que estava sob sua tutela depois da morte do irmão. O que não estava previsto é que o romance escrito por Phoebe fosse sucesso e todos reconhecessem o cruel personagem no duque. Daí já havia envolvimento entre os dois.
Tudo previsível, um romance sem surpresas, bobinho, para não pensar.

A ruptura rahab - Gardenia Yud

Rahab - A Ruptura
Gardencia Yud
Blaze Editorial / 2016
Uma mulher releitura da passagem bíblica escrita em Josué 2, quando a prostituta Raab salva dois espias hebreus que estavam escondidos em Jericó. Na destruição da cidade, ela foi salva pela ação que resultou na fuga de Salmon e Ehud.
Na Bíblia,  Boaz é filho de Salmon e Raab, linha direta na genealogia de Jesus. 
O romance e a vida da Raab é uma ficção em que ela é vendida pelos familiares a uma casa de prostituição aos oito anos. Achando que a culpa seria de seus cabelos ruivos,  ela os arranca, ficando calva, sendo conhecida como "a prostituta calva". Sofre o preconceito pela falta dos cabelos e pela profissão.  
Assim,  os cabelos, assim como a vida de prostituição são alvos igualmente vergonhosos.
Com o acordo que faz com Salmon, por ter salvado a vida dele e de Ehud, é poupada na destruição de Jericó,  passando a viver na tribo de Judá,  junto com o salvador Salmon. 
Uma relembrança boa dessa parte bíblica.  
Vale a pena a leitura.
"Eu descobrira o Amor no degredo dos meus. Afastada daqueles que eu considerava meu povo, eu finalmente encontraria o que buscava. Mas era preciso coragem. O amor não chega para os covardes. Nem se entrega para rasos ou tolos. Não aceita ser tocado por mãos trêmulas de medo. O Amor é bom e puro. Ele quer você."

Lucas e Nicolas - Gabriel Spits

Lucas e Nicolas - Gabriel Spits
Rio de Janeiro/ 2016 / Ebook
Editora Fabrica231

Lucas é um garoto de 14 anos que sofre bulying na escola, popular nas sombras das redes sociais. E é gay. Se apaixona pelo colega que acabou de entrar em sua turma, loiro e lindo.
Lucas se corresponde com outro gay pela internet.
O loiro bonitinho tem problemas na família. Além do que é gay.

Um dos livrinhos mais ruins que já li. Não pelo mundo gay, nada contra, cada um dá o que quer, mas a escrita, a construção, a bestialidade. Não percam seu tempo.

A besta humana - Emile Zola

A Besta Humana
Émile Zola
Editora Zahar
Tradução Jorge Bastos
Primeira publicação: 1890 
Nesse escrito abaixo, que nem considero resenha, cometo spoiler claro e desonesto. 
Então leiam o livro excepcional de Zola e não leiam o que escrevo.

Zola escreveu esse maravilhoso livro nos trilhos e estações de trens, como se eles tivessem vida e dessem sentido aos destino dos personagens.  Paixões, mortes, perdas, obsessões, inveja, ciúmes, assassinatos, culpa. Tudo nas estações de trem, nos próprios vagões puxados pela força do fogo que alimenta a máquina, que transporta pessoas, destinos, como personalidades tivesse. 
Severine casa-se com Roubaud, subchefe em uma estação de trem. Casamento arranjado pelo benfeitor de Severine. Quando Roubaud descobre que o envolvimento entre a jovem e bela esposa e o seu protetor não era uma relação tão paternal quanto deveria ser, numa crise de ciúmes, mata o ancião, a mulher como cúmplice. Mesmo cometendo o crime quase perfeito, tem como testemunha Jacques, um maquinista que tem obsessão em matar mulheres. Para se inocentar, Severine se envolve com o maquinista, nascendo um tórrido caso extraconjugal entre o a dois. Com Severine, os âmbitos de matança de jacques se amenizam, porque ela mesma, a amanta, era uma igual, capaz de degolar alguém e sentir o mesmo prazer que ele. Flore, apaixonada por Jacques, não suporta o romance dos dois, deseja descarrilar o trem que transportava os amantes indo e vindo na dança da traição. O padrasto  de Flore, Misart, também funcionário da ferrovia, envenena a esposa aos poucos para descobrir onde ela escondeu a herança do sogro. Vivem ao pé dos trilhos do trem, cuidando da cancela.  Severine confessa o crime a Jacques e ele percebe que não se trata de uma tão igual quanto pensava, e a ânsia de assassinar mulheres volta. Mas Severine deseja a morte do marido para que seja livre com o amante. 
O fim de tudo é morte, enquanto o trem imitando a vida, segue seu curso sem poder parar ou, se forçado a isso, provoca desastres, seu curso alimentado pelo carvão, pelo homem, senhor de seu destino, que não é mais humano, é uma besta, sem consciência.

"Certo dia em que Roubaud entrou lívido em casa, explicando que ao atravessar à frente de uma locomotiva sentira um dos para-choques encostar no seu braço, Séverine pensou que se ele morresse ela estaria livre. Olhou-o fixamente: por que não morria, já que ela não o amava mais e que passara a só atrapalhar todo mundo?
A partir daí o sonho de Séverine mudou. Roubaud morria num acidente e ela partia com Jacques para a América."

"Que importância tem os desconhecidos da multidão, caídos no percurso, esmagados sob as rodas? Osmortos tinham sido retirados, o sangue lavado e partia-se em frente, rumo ao futuro."

"Que importância tinham as vítimas que a máquina esmagaria no caminho? Não seguia, de um jeito ou de outro, rumo ao futuro, indiferente ao sangue derramado? Sem condutor, em meio às trevas, besta cega e surda solta no campo da morte, ela rodava, rodava, carregada de bucha de canhão, de soldados já tontos de cansaço que, bêbados, continuavam a cantar"

Frankenstein - Mary Shelley

Titulo: Frankenstein  / literatura inglesa
Autora: Mary Shelley
Editora Landmark Ltda / Ano 2016 / Edição bilingue / Ebook
Primeira publicação: março 1818

Esse conto de fadas de terror é considerado clássico da literatura mundial, para uma mente lógica, melhor nem lê-lo, já que a falta de lógica impera do  início ao fim. Não me refiro à criação de um ser pensante e vivente a partir de restos de cadáveres de humanos - se bem que também posso considerar essa falta de coerência também -, mas a todo  conjunto, desde a saída do monstrengo da sala de "parto " criada pelo cientista Victor Frankenstein, passando pelo seu aprendizado primoroso da fala e do pensar, reconhecer sentimentos, etc, até a chegada ao exato sítio onde a família de seu "papai" Victor morava. Tudo bem, é ficção e tudo se aceita. Mas exagerar nessa dose vira uma coisa surreal, conto da carochinha, conto de fadas de terror.

Erro médico - Robin Cook

Dr Jeffrey Rhodes, médico anestesista, é o profissional que fará a cesariana uma cesariana, porém a paciente entra em óbito, daí a acusação de erro médico, perseguido e condenado, cassado. Mas ele percebe que há um padrão em determinadas mortes. A vida do médico muda em apenas uma  noite, seu casamento já combalido se desfaz. Uma mente doentia e vingativa está por trás das mortes ou seria coincidência? O médico, com a ajuda da esposa de um amigo vítima do mesmo acontecimento, vão em busca de resposta. Um suspense que, para quem conhece a capacidade de Cook no estilo, deve gostar. 
O romance perde um pouco o  brilho pelo final americanizado, romanceado. 
Mas vale. Aliás, qualquer leitura vale. 
Li um exemplar adquirido por 1 euro em Portugal, li em um dia, numa viagem de trem para Coimbra. "Esqueci" o exemplar  lido no banco da estação. Fica a nostalgia de quem pegou pode ser alguém com tanta fome de leitura quanto eu.