segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A besta humana - Emile Zola

A Besta Humana
Émile Zola
Editora Zahar
Tradução Jorge Bastos
Primeira publicação: 1890 
Nesse escrito abaixo, que nem considero resenha, cometo spoiler claro e desonesto. 
Então leiam o livro excepcional de Zola e não leiam o que escrevo.

Zola escreveu esse maravilhoso livro nos trilhos e estações de trens, como se eles tivessem vida e dessem sentido aos destino dos personagens.  Paixões, mortes, perdas, obsessões, inveja, ciúmes, assassinatos, culpa. Tudo nas estações de trem, nos próprios vagões puxados pela força do fogo que alimenta a máquina, que transporta pessoas, destinos, como personalidades tivesse. 
Severine casa-se com Roubaud, subchefe em uma estação de trem. Casamento arranjado pelo benfeitor de Severine. Quando Roubaud descobre que o envolvimento entre a jovem e bela esposa e o seu protetor não era uma relação tão paternal quanto deveria ser, numa crise de ciúmes, mata o ancião, a mulher como cúmplice. Mesmo cometendo o crime quase perfeito, tem como testemunha Jacques, um maquinista que tem obsessão em matar mulheres. Para se inocentar, Severine se envolve com o maquinista, nascendo um tórrido caso extraconjugal entre o a dois. Com Severine, os âmbitos de matança de jacques se amenizam, porque ela mesma, a amanta, era uma igual, capaz de degolar alguém e sentir o mesmo prazer que ele. Flore, apaixonada por Jacques, não suporta o romance dos dois, deseja descarrilar o trem que transportava os amantes indo e vindo na dança da traição. O padrasto  de Flore, Misart, também funcionário da ferrovia, envenena a esposa aos poucos para descobrir onde ela escondeu a herança do sogro. Vivem ao pé dos trilhos do trem, cuidando da cancela.  Severine confessa o crime a Jacques e ele percebe que não se trata de uma tão igual quanto pensava, e a ânsia de assassinar mulheres volta. Mas Severine deseja a morte do marido para que seja livre com o amante. 
O fim de tudo é morte, enquanto o trem imitando a vida, segue seu curso sem poder parar ou, se forçado a isso, provoca desastres, seu curso alimentado pelo carvão, pelo homem, senhor de seu destino, que não é mais humano, é uma besta, sem consciência.

"Certo dia em que Roubaud entrou lívido em casa, explicando que ao atravessar à frente de uma locomotiva sentira um dos para-choques encostar no seu braço, Séverine pensou que se ele morresse ela estaria livre. Olhou-o fixamente: por que não morria, já que ela não o amava mais e que passara a só atrapalhar todo mundo?
A partir daí o sonho de Séverine mudou. Roubaud morria num acidente e ela partia com Jacques para a América."

"Que importância tem os desconhecidos da multidão, caídos no percurso, esmagados sob as rodas? Osmortos tinham sido retirados, o sangue lavado e partia-se em frente, rumo ao futuro."

"Que importância tinham as vítimas que a máquina esmagaria no caminho? Não seguia, de um jeito ou de outro, rumo ao futuro, indiferente ao sangue derramado? Sem condutor, em meio às trevas, besta cega e surda solta no campo da morte, ela rodava, rodava, carregada de bucha de canhão, de soldados já tontos de cansaço que, bêbados, continuavam a cantar"