quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Quando voltará a ser como nunca foi - Joachim Meyerhoff

Quando voltará a ser como nunca foi
A loucura está do lado de dentro ou de fora?
Joachim Meyerhoff
Editora Valentina / Ebook / 2016
Literatura alemã
Tradução Karina Janini

Um menino cresce num hospício, entre os adolescentes pacientes que são internos, onde o pai é o médico responsável, diretor do  hospital e reside na casa construída dentro do prédio-hopício. E é a voz desse menino que narra em primeira pessoa estória, enquanto cada um na família tem seu papel bem detalhado: a mãe que questiona sua rotina, os irmãos em seus mundos, enquanto o menino convive com os realmente ausentes, a criança hóspede que tem seus problemas, que ele observa e entende. Talvez pela familiaridade de tê-los por perto, acostuma-se, supera os medos, sente pelos que se vão.
Um bom livro. Recomendo.

"Todos as manhãs, eu percorria a metade do meu caminho para a escola atravessando o hospital psiquiátrico, onde sempre encontrava os mesmos pacientes. Assim eu saída do jardim na frente da nossa casa por um portãozinho, via sentado, logo noprimeiro banco, um rapaz que adorava fumar cigarros em uma única tragada. Ele ficava esperando meu pai, que costumava lhe dar um dos seus Roth-Händle.(...) e ficava ali sentado, envolvido numa fumaceira, com os olhos enevoados de felicidade."

"Minha mãe sempre fora uma  pessoa exageradamente assustada, e meu pai, um homem pesado, com pendor para a letargia. A perda do filho potencializou essas características, tornando-as ainda mais nítidas. Como uma faca afiada, ela descascava a dor do seu equilíbrio que, durante anos, talvez tenha sido apenas simulado.
(...) Ja meu pai, em sua poltrona, parecia ter ficado tão pesado de sofrimento como nunca  antes. Como se sua carne tivesse se transformado em metal maciço. Nenhum guindaste no mundo seria capaz de içar da poltrona aquele homem de bronze que a vida havia quebrado"

"Cada vez mais tenho a impressão de que o passado é um lugar ainda mais inseguro e instável que o futuro. O que deixei para trás não deveria ser algo seguro, concluído, que já fora e só esperava pela frente não deve ser o chamado futuro a ser moldado? E se eu tiver de moldar meu futuro? E se de um passado permeado e moldado puder surgir algo  como um futuro em aberto? É um pensamento opressivo, mas, de vez em quando, a vida que tenho pela frente me parece um trecho feito sob medida para mim, a ser inevitavelmente percorrido, uma linha em que vou me equilibrar com cuidado até o fim."