Quando voltará a ser como nunca foi
A loucura está do lado de dentro ou de fora?
Joachim Meyerhoff
Editora Valentina / Ebook / 2016
Literatura alemã
Tradução Karina Janini
Um
menino cresce num hospício, entre os adolescentes pacientes que são
internos, onde o pai é o médico responsável, diretor do hospital e
reside na casa construída dentro do prédio-hopício. E é a voz desse
menino que narra em primeira pessoa estória, enquanto cada um na família
tem seu papel bem detalhado: a mãe que questiona sua rotina, os irmãos
em seus mundos, enquanto o menino convive com os realmente ausentes, a
criança hóspede que tem seus problemas, que ele observa e entende.
Talvez pela familiaridade de tê-los por perto, acostuma-se, supera os
medos, sente pelos que se vão.
Um bom livro. Recomendo.
"Todos
as manhãs, eu percorria a metade do meu caminho para a escola
atravessando o hospital psiquiátrico, onde sempre encontrava os mesmos
pacientes. Assim eu saída do jardim na frente da nossa casa por um
portãozinho, via sentado, logo noprimeiro banco, um rapaz que adorava
fumar cigarros em uma única tragada. Ele ficava esperando meu pai, que
costumava lhe dar um dos seus Roth-Händle.(...) e ficava ali sentado,
envolvido numa fumaceira, com os olhos enevoados de felicidade."
"Minha
mãe sempre fora uma pessoa exageradamente assustada, e meu pai, um
homem pesado, com pendor para a letargia. A perda do filho potencializou
essas características, tornando-as ainda mais nítidas. Como uma faca
afiada, ela descascava a dor do seu equilíbrio que, durante anos, talvez
tenha sido apenas simulado.
(...) Ja meu pai, em sua poltrona,
parecia ter ficado tão pesado de sofrimento como nunca antes. Como se
sua carne tivesse se transformado em metal maciço. Nenhum guindaste no
mundo seria capaz de içar da poltrona aquele homem de bronze que a vida
havia quebrado"
"Cada vez mais tenho a impressão de que
o passado é um lugar ainda mais inseguro e instável que o futuro. O que
deixei para trás não deveria ser algo seguro, concluído, que já fora e
só esperava pela frente não deve ser o chamado futuro a ser moldado? E
se eu tiver de moldar meu futuro? E se de um passado permeado e moldado
puder surgir algo como um futuro em aberto? É um pensamento opressivo,
mas, de vez em quando, a vida que tenho pela frente me parece um trecho
feito sob medida para mim, a ser inevitavelmente percorrido, uma linha
em que vou me equilibrar com cuidado até o fim."
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