segunda-feira, 31 de julho de 2017

Almas mortas - Nikolai Gógol

279 páginas
Título original Myortvyjye Dushi  (1842)
Tradução Isolino Caramalho
Editora Centaur 2014
À parte adorar Gógol, mesmo com sua misoginia explícita, Almas Mortas é uma extraordinária construção atemporal. Poderia ser o Brasil atual (ou eterno), no mar da corrupção, nas teias dos serviços públicos facilitatos por propina, na vilania do ser humano; poderia ser Tchichikov aquele que nos lembra alguém que passou por nossa existência, que nos vendia algo e, de fato, era algo que esse alguém dizia detestar.
Eu conheci um Pavel Ivanovitch Tchichikov. Entrou pela porta da frente da minha vida como o mais simpático, galante e gentil homem. Ao final, quando percebeu que de mim nada tiraria, revelou-se. A máscara caiu.
Assim é a obra de Gógol. Nos faz ver o que há de ruim no bicho homem, mas de forma cômica, caricata, espetáculo de escrita.
Tchichicov desde cedo quis vencer na vida e ser rico. E logo percebeu algumas malandragens que o levariam longe mais rápido e com menos trabalho: corrupção, sedução,  usar e enganar as pessoas em proveito próprio. 
Nikolai Gógol
Funcionário público, depois membro da alfândega.... sempre sendo descoberto em suas tramóias, quando começava tudo novamente, em nova cidade, onde ninguém sabia quem ele era, ou melhor, mostrava a face de um cavalheiro amável, educado e que conquistava todos. Para ter empregados que justificassem uma riqueza que não possuía, começa a comprar os camponeses mortos dos proprietários de terra, almas mortas.
O livro é repleto de personagens. Cada um o escritor traça seu perfil, fazendo pequenas fugas na trama, contextualizando-o dentro da estória.
Um livro arrebatador. Ótimo. 
"(...) Confesso,  custa-me muito falar das damas, e tenho pressa de voltar aos nossos heróis, parados durante alguns minutos em frente da porta do salão,  em luta cortês, para saber quem cedia o passo ao outro "
"(...) Produzia nelas uma impressão simplesmente de assombro. Para explicar este fenômeno (...), teríamos que falar primeiro dessas damas, da sociedade que viviam, descrever a largos traços as suas
particularidades morais. O autor, porém, desiste de tão árdua tarefa. Por um lado,  sente-se coibido, pelo respeito que se deve às pessoas dos altos dignitários. Por outro. .. por outro... - Santo Deus! - é  sinceramente difícil. (...) Bosquejemos apenas seu aspecto exterior. "
"(...) Desde que o fizeram milionário, já encontravam nele certas qualidades. Não que fossem interesseiras; mas, posta de parte a questão do dinheiro, a secreta magia da palavra milionário tem o privilégio de conhecer a baixeza desinteressada; de a contemplar sem disfarces."
"Entenda quem puder estes homens! Este nega a existência de Deus; mas, se sente uma cócegas no nariz,  já pensa ter chegado à sua última hora. Desdenhando de tal obra poética, em que à harmonia se junta uma divina simplicidade, aquele lança -se sobre uma produção forçada."
"Constituiu-se uma comissão para a construção de um edifício público de certa importância. Ele fez parte dela, mostrando-se um dos seus mais ativos elementos. A comissão lançou imediatamente mãos à obra. Durou seis anos; porém, ou porque o clima lhe fosse prejudicial ou porque os materiais deixassem a desejar, o edifício não passou além dos alicerces. Entretanto, cada um dos membros da
comissão achou-se, noutros pontos da cidade, dono de uma linda casa, de arquitetura burguesa".

O autor: Nikolai Vasilievich Gogol(01/04/1809 ou 20/03/1809 - 04/03/1952 ou 21/02/1952), nascido no Império Russo, hoje Ucrania, na cidade de Poltava, dramaturgo, contista, romancista. Amigo pessoal de Puchkin, que conheceu em São Petersburgo, quando lá morou em 1829.