terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Amanhã na batalha pensa em mim - Javier Marías

Víctor conhece Marta  de três encontros. Vai à casa dela, quando o marido vai em viagem à Londres, à noite, para um promissor encontro de corpos ardentes. Nada de paixões, amores. Apenas uma conjunção carnal. O filho de Marta demora a dormir, dois anos tem o  pequeno, nem se  lembrará da aventura materna. Com essa demora, a entrega se estende. E, no quarto, nem bem começam os carinhos, Marta morre nos braços de Victor. Depois de muito conjecturar, ele a deixa com o filho dormindo em outro quarto, mas  não sem antes providenciar algo para o pequeno comer até a volta do pai ou  da faxineira.
Esse é o ponto inicial da trama do escritor espanhol Javier Marías. A partir daí, ele desenvolve uma curiosidade em relação à família da morta, irmã, pai, marido. E arranja uma forma de se aproximar deles. Seria aconselhável revelar-se, dizer que a filha ou irmã ou esposa não morreu sozinha como pensavam?
Victor desperta também o fantasma da ex-mulher ao encontrar uma prostituta bem parecida com a mesma em umponto qualquer. Querer saber a verdade do que Celia fez da vida, não ficar no obscuro do desconhecimento, são reflexões que o livro nos deixa. Ou seja, o poder do conhecimento dos fatos, a realidade dos relacionamentos humanos, de uma sociedade que alimenta o próprio prazer, o valor da imagem de alguém que  já não pode defender-se, mas também a falta de conhecimento da realidade que vivia, estando viva... então se desenrolam mais personagens.
Interessante e nos deixa muito a pensar essa novela de Javier Marías.

"(...) até o tempo que resiste a passar acaba por passar e faz as coisas desaguarem, e basta imaginar a chegada do dia para que me veja já fora desta casa, talvez em breve esteja fora, ainda de noite(...)"

"(...) é estranho que tudo isso seja um nmomento, porque esse momento e não outro, por que não o anterior ou o seuinte, porquê este dia, este mês, esta semana, uma terça-feira de janeio ou um domingo de setembro, antipáticos meses e dias que não escolhemos, o que é que decide que pare aquilo que esteve em movimento, sem que  vontade intervenha, ou talvez sim, intervém ao pôr-se de lado, talvez seja a vontade que de repente intervenha(...)".

"É cansativo mover-se na sombra e espiar sem ser visto ou rpocurando não ser descoberto, como écansativo guardar um  segredo ou ter um mistério, que fadiga a clandestinidade e a permanente consciência de que nem todos os nossos próximos podem saber o mesmo, a um amigo oculta-se-lhe uma coisa e a outro outra diferente daquela de que o primeiro está a perder(...)"

"Fica o odor dos mortos quando nada mais fica deles. Fica quando ainda ficam os seus corpos e também depois, já fora das vistas e enterrados e desaparecidos: seja eu chumbo no interior do teu peito, pese eu  amanhã sobre a tua alma sangrenta e culpável."