Eugênio Bazárov e Arcádio Kirsánov, dois amigos bem diferentes em pensamento e atitudes, o primeiro estudante de medicina, porém sem crer até na própria medicina, niilista, que possui um ponto de vista crítico em relação a tudo, que não reconhece quaisquer autoridades, tinha o amor como escravidão e sentimento para pessoas de menor personalidade, tido como inteligente e culto. Arcádio, ingênuo, mais moço que o amigo, que o admirava como uma mente superior, um leal companheiro, até gostarem na mesma mulher.
Em folga dos estudos, vão visitar os pais. Arcádio, enquanto admirador do seu pai Nicolau Pietróvich, sente-se acolhido em terras de sua infância, Mariino, enquanto Bazákov sente-se mal na presença dos seus, na simplicidade que comove e reina em sua casa.
O pai viúvo de Arcádio mora com a amante Fiênitchka, um filho bastardo e o irmão mais moço Páviel Pietróvitch,um aristocrata bem "engomadinho", que desenvolve ao mesmo tempo uma antipatia pelo amigo prepotente do sobrinho e um amor escondido pela amante do irmão.
Através de um conhecido sem muitos atributos, Sitnikov, conhece a rica viúva Serguêievna Odintsova, com quem travam amizade, passando dias em sua casa. Ambos se encantam com a bonita senhora. Aí a amizade já deixa dúvidas de sua força.
Adoro autores russos, foi apresentada a Turguêniev com essa obra. Boa.
"— Um bom químico é vinte vezes mais útil que qualquer poeta — insinuou
Bazárov. — Ótimo — disse Páviel Pietróvitch, parecendo adormecer e
levantando levemente as sobrancelhas. — O senhor então não reconhece o
valor da arte? — A arte de ganhar dinheiro ou de curar hemorróidas? —
perguntou Bazárov com um sorriso irônico. — Muito bem; o senhor é
espirituoso. Pelo que vejo, nega tudo. Quer dizer que acredita somente
na ciência? — Já lhe disse que não acredito em coisa alguma. A ciência?
Que é a ciência em geral? Existem ciências como existem artes e
profissões. A ciência de um modo geral não existe. — Será também
negativa sua atitude em face das demais instituições aceitas pela
humanidade? "
"Antes, ainda há pouco, dizíamos que os nossos funcionários públicos recebiam gorjetas, não tínhamos nem estradas, nem comércio, nem um júri decente... — Compreendo. Os senhores são caluniadores, e assim posso expressar-me. Com algumas das suas acusações concordo, mas... — E, em seguida, percebemos que não vale a pena tocar somente nas nossas chagas. Seria uma vulgaridade e doutrinismo. Vimos que os nossos intelectuais ou os homens da vanguarda, acusadores ou caluniadores, não servem para coisa alguma, que nos ocupamos de parvoíces, discutimos sobre uma certa arte, a criação inconsciente, o parlamentarismo, a justiça e tanta coisa inútil, quando o problema consiste no pão."
"— Resolvemos realmente não nos preocupar com coisa alguma — repetiu em
tom lúgubre Bazárov. Invadia-o uma raiva de si mesmo pelo fato de ter-se
expandido tanto com aquele aristocrata.
— E somente ofender tudo e a
todos? — continuou o aristocrata.
— Ofender também.
— É o niilismo?
— É o
niilismo — repetiu Bazárov com ar de desafio.
Páviel Pietróvitch fechou
de leve os seus olhos.
— Agora compreendo! — disse com voz
esquisitamente calma. — O niilismo deve auxiliar-nos em todas as
desgraças. Os senhores são nossos salvadores e heróis. Sim. Porque nesse
caso acusam os próprios acusadores. Não vivem de palavras vãs como os
demais.
— Podemos ter outros pecados, menos esse — disse Bazárov"
"Parece que conversávamos ontem sobre a felicidade. Disse-lhe qualquer coisa sobre
mim mesma. Vem agora, a propósito, a palavra "felicidade". Por que, até
quando sentimos um prazer, por exemplo com a música, uma linda tarde, a
palestra com uma pessoa simpática, por que tudo isso nos parece um
pretexto para a felicidade sem fim e existente em qualquer parte: mais um pretexto do que a verdadeira ventura que trazemos em nós? Por quê? Ou possivelmente nada sente?"
"Arina Vassilievna era legítima representante da antiga burguesia russa. Devia ter nascido há duzentos anos, no período moscovita. Muito religiosa e sensível, acreditava em toda espécie de superstições, encantamentos,
cartomancia e sonhos. Acreditava nos idiotas de índole profética, nos
gênios caseiros, nos gênios da floresta, nos maus encontros, na
feitiçaria, nos remédios domésticos, no sal às quintas-feiras e no
próximo fim do mundo."
"O filho é como um pedaço que se corta. É como o falcão: quis, veio;
quis, foi embora. E nós somos como certas aves que não saem do seu ninho
no tronco de uma árvore seca. Só eu não te abandonarei nunca, nem tu a
mim."