sexta-feira, 27 de outubro de 2017

As fúrias invisíveis do coração - John Boyne

Título original The Heart's Invisible Furies
Tradução  Luiz A. de Araújo
Editora Companhia das Letras
536 páginas
Cyril Avery é a voz que narra seus quase 70 anos de vida, até mesmo desde quando sua mãe, então com 16 anos, foi e expulsa da cidade onde morava na Irlanda carregando-o ainda em formação na barriga. E foi esse o motivo de sua execração em plena Igreja e à frente de todos os fiéis católicos hipócritas romanos: gravidez solteira. Era finalzinho da Segunda Guerra Mundial.
A mãe de Cyril dá o filho para outra família criar, sendo  adotado em Dublin por Charles e Moude Avery, que lhe deram conforto, mas amor e acolhimento como filho legítimo seria pedir demais para um casal egocêntrico.
Cyril é um menino estóico. Aceita o que lhe dão e se encaixa na família pouco convencional que é obrigado a viver. Aí conhece Julian aos sete anos, menino da mesma idade sua, desenvolvido, falante e desenrolado, seu oposto. Desenvolve um certo fascínio pelo garoto, afeto que persiste, mesmo tendo apenas um contato com ele, só se reencontrando novamente sete anos depois num colégio interno. Tornam-se melhores amigos. Cyril então se percebe homossexual, apaixonado pelo amigo em um país preconceituoso e machista. Não pode ser contra sua natureza, mas deve se preservar e à amizade com Julian.
Os reencontros com a mãe verdadeira se dão constantemente, sem que nenhum saiba que são mãe e filho de fato.
O livro fala sobre o  preconceito irlandês contra homossexuais e mães solteiras, poder da Igreja Católica, pederastia, homofobia, a devastação da chegada da AIDS e seu estigma sobre os homossexuais, adoção, perdão, entre outros assuntos.
Exemplar extenso, que não deveria chegar a tanto. Em 60% dele, o que era empolgante e prazeroso na leitura passa a ser monótono e repetitivo. Diálogos longos e vazios, personagens que se (re)encontram demais, outros que, caso fossem retirados da trama nada alteraria ou até seria mais lógico, como Ignac, Jack e outros.
Seria um bom livro,  mas tornou-se razoável pela vontade do autor em esticar uma trama sem necessidade. Como um elástico desgastado.

"(...)Se eu tivesse um filho de verdade, faria o possível para que ele entendesse isso: a monogamia não é o estado normal do homem,  e, quando eu digo homem, quero dizer homem ou mulher. Apenas não tem sentido você se algemar sexualmente à mesma pessoa durante cinquenta ou sessenta anos quando a sua relação com essa pessoa pode ser muito melhor se vocês se derem a liberdade de penetrar e ser penetrada por pessoas do sexo oposto que acharem atraentes. O casamento devia ser questão de amizade e companheirismo, não de sexo. Quer dizer, que homem em sã consciência quer sexo com a própria esposa?"

"(...) Era 1959. Eu não sabia quase nada de homossexualidade, salvo que, na Irlanda, ceder a tais impulsos era crime punível com pena de reclusão, a menos, é claro, que o interessado fosse padre, caso em que ser homossexual era uma prerrogativa do ofício."

"'(...)Fui adotado. Há muito tempo. Quando era bebê.'
[...] 'Sim, mas ter uma origem dessas.... É uma cepa ruim na família'"
John Boyne
"(...) Estava começando a perder os cabelos, coitado, e não suportava nem pensar nas outras indignidades que a meia-idade pode infligir." 

John Boyne
Escritor irlandês nascido em 30 de abril de 1971, em Dublin, Irlanda, famoso pelo best-seller O Menino do Pijama Listrado. Estudou língua inglesa no Trinity College, e Literatura Criativa na Universidade de East Anglia, onde foi galardoado com o prêmio Curtis Brown.