quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Tempo é dinheiro -Lionel Shriver

Tempo é Dinheiro - Lionel Shriver
Título original: So Much for That
Ano de publicação: 2010
Editora Intrínseca / 2012
Tradução Vera Ribeiro
464 páginas 

Shep, ou Shepherd Armstrong Knacker, desde a adolescência,  teve, pesquisou e alimentou o sonho de "Outra Vida", ou seja, mudar-se para algum país na África e lá viver como milionário, já que, por lá, vivia-se com dois reais ao dia. 
Depois de ter vendido sua empresa de faz-tudo "Knak para toda obra" a um dos empregados, um gordo e incompetente que ganhara uma herança, seria uma forma de viver eternamente como rico.  Mesmo com a venda, continuou na sua empresa, agora a "Randy mão na obra", porém como empregado. Um arranjo temporário que deveria ser por pouco tempo e se estendeu por oito anos. Então, quando ele estava disposto a tomar as rédeas de sua Outra Vida, a esposa Glynis descobre que sofre de câncer e todo o planejamento da viagem se desfaz. Sem falar que o fundo para uma vida de milionário em Pemba, na África, também tem seu futuro sombrio com os custos do tratamento de saúde da esposa, nem todo coberto pelo seguro de saúde, e, por ser um câncer raro chamado mesotelioma, pelo preço de um profissional especializado.
Sem falar na dilapidação gerada pelo pai de Shep, idoso, com uma curta renda de pastor aposentado, que também necessita de ajuda financeira, bem como a irmã folgada.
Jackson ajudou Shep a fundar a Knak mão na obra e também era o melhor amigo de seu antigo patrão, agora colega de trabalho. Sua vida, assim como de sua esposa Carol, gira em torno da filha mais velha Flicka, que possui uma doença degenerativa genética.
Os problemas conjugais, a resiliência que chega às raias da babaquice de Shep, a personalidade difícil de Glyndes, o filho adolescente alheio e esquisito, a pãodurice, o sexo no casamento, percepção pessoal de inferioridade no relacionamento, eutanásia, a saude pública quase inexistente nos EUA, o falastrão e revoltado Jackson que faz vários discursos contra governo, sobre a vida, trabalho, falas dos personagens que enriquece o livro, quando a autora navega de forma sublime por esses e outros vários temas.
O segundo livro da autora que leio. Julguei de antemão que me causaria impacto a leitura, levando em conta o primeiro.
A autora
Lionel Shriver
Lionel Shriver nasceu em 18 de maio de 1957 (60 anos), Gastonia, Carolina do Norte, EUA, é uma jornalista e escritora bestseller americana, famosa por sua obra We Need to Talk About Kevin. É de uma família extremamente religiosa, sendo o seu pai pastor presbiteriano. [Fonte: Wikipédia]

Passagens: 
"Embora ainda fosse capaz de perceber a diferença entre sessenta e sessenta e cinco anos, nos últimos tempos, todos os seus conhecidos mais novos tinham entrado na categoria indiferenciada de Mais Jovem Que Eu, o que era estranho, porque ele já passara por aquelas idades, sabia como eram e que aparência tinham no espelho."

"Pessoalmente, Shep não compreendia por que alguém quereria ser médico. Ah, é clato que as tarefas de introduzir um stent numa artéria e desobstruir um ralo de banheira eram tecnicamente similares. Mas o médico era uma espécie de faz-tudo que, numa percentagem apreciável do tempo,  tinha que bater à porta e dizer: sinto muito, mas não posso desobstruir seu encanamento. Era para isso que servia agir com gentileza: paraa parte do sinto muito. E depois ele se retirava, talvez dando adeusinho, e deixava o sujeito com a água imunda estagnada na banheira. Por que é que alguém havia de querer um trabalho desses?"

"É como se, agora, todo mundo andasse exibindo suas neuroses. Costumávamos ser cercados por um bando de gente de aparência sofrivelmente normal, que ia para casa e se olhava no espelho, infeliz. Agora, você anda pela rua e as mulheres têm seios do tamanho de um dirigível. Homens de vestido, entupidos de hormônios,  usam sutiã de armação e, pela dobra das calças colantes, de lycra, dá para ver que foram todos esculpidos com um talho grotesco de vagina. É como ter que viver nas paisagens oníricas dos outros."

"Para sua surpresa, dormiu um sono profundo. Para sua vergonha, estar na cama sozinho foi um alívio. A simplicidade, a vastidão sem exigências dos lençóis vazios. Não se apercebera da tensão de um outro corpo ao lado do seu, apodrecendo um pouco mais a cada minuto, de dentro para fora. Da energia