segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Proibido - Tabitha Suzuma

Um rapaz tem fobia social, é responsável pelos irmãos mais novos, junto com a irmã Maya. A mãe não tem responsabilidade pelos filhos, nem pela casa, apenas com o namorado e suas bebedeiras. Até aí uma estoriazinha clichê. Aí os irmãos se apaixonam. É, incesto mesmo. Aguentei até a metade do livro, mais ou menos, uma escrita cansativa, com detalhes de diálogos com as  crianças da trama, uma lenga lenga sem tamanho, sem falar no asco que me deu. Abandonei a leitura. Leio de tudo, qualquer atrocidade, mas uma trama besta dessas e muito mal escrita, minha capacidade de leitura não alcança.
Tem menos 5 estrelas? Não, né? Então zero estrelas. Não pelo abandono, pela qualidade do livro. Não esperam passagens, por favor!

domingo, 18 de outubro de 2015

A Arte de Ser Normal - Lisa Williamson

David tem 14 anos e não se sente como menino. Ele não se vê no corpo de um homem, sonha em  sentir seios crescendo, os pés menores, a altura não chegar a de seu pai, as partes íntimas sumirem. Sofre bullying na escola. Chamam-no de "show de aberrações", porque, quando criança e a professora perguntou o que ele queria ser quando crescesse, respondeu: "quero ser menina". Enfrenta a difícil batalha de contar aos pais, enfrentar a escola, a vida.
Leo é um rapaz que vem de um lar desajustado, a mãe não se fixa num namorado, não é presente, as irmãs relegadas. Ele é transferido para a escola de David por motivos, segundo boatos que chegam com ele, por ter decepado uns dedos de um professor. Mas não é essa a real razão dele ter sido expulso do colégio anterior, Cloverdale. Ele desperta medo entre os demais alunos e fascínio em uma aluna, Alicia, já que é um bonito e misterioso rapaz. Mas chama a atenção de David também e acabam se tornando amigos. Leo não faz amizades com facilidade, é isolado, carrega consigo um segredo.
Em ficção temos de aceitar tudo tal qual a autora descreve. Tá. Esse bla, bla, bla eu sei. Mas posso discordar, duvidar, me irritar com coisas que fujam de uma realidade óbvia. Qual a chance de duas pessoas como David e Leo caírem  numa mesma escola, se atraírem e se tornarem grandes amigos? Parece coisa muito irreal.
No mais, percebemos claramente o que é alguém não se enxergar no corpo que possui. Olhar-se no espelho e não se aceitar. Além de não ser aceita pelos outros, mas bem pior não ser por si mesma.
Um livro razoável. Dei uma estrelinha.

Passagem:
"(...) minha mãe está esperando que eu conte que sou gay. Acho que ela está esperando esse momento há anos; desde que pedi minha primeira Barbie no Natal, corri pela casa usando meu primeiro par de asas de fada, enrolei uma toalha na cabeça e fingi que era uma cabeleira comprida. Ela provavelmente tem ensaiado uma resposta há meses, praticando no espelho o equilíbrio adequado entre surpresa e aceitação."

sábado, 17 de outubro de 2015

Diário de uma vida perdida na memória - Rowan Coleman

Todos tememos uma doença, tememos a demência, a invalidez, o esquecimento. Esse livro é sobre a chegada precoce do Alzheimer para a personagem Claire. Herança do pai. Primeiro há pequenos lapsos de memória, depois confusão mental,  desorientação, os nomes dos objetos vão embora, as pessoas são esquecidas. O corpo fica, a memória envelhece, a mente adoece.
Todos os principais personagens do livro, Claire, Caitlin, Ruth e Greg escrevem no diário que guarda as lembranças de quem as perde rapidamente. E os capítulos são divididos pelas vozes de cada um. Não há desespero, apenas aceitação e luta, preocupação com quem em breve será uma presença fantasma entre os demais.
Claire era alegre, inteligente, mãe de Caitlin, filha de Ruth e casada com Greg. Há também a filha de 3 anos, Esther, o alento e o sol para todos. A doença vai tomando conta de sua realidade, mas ela continua raciocinando, pensando, apenas o branco do esquecimento que resta.
Angustia, quando nos colocamos no lugar da personagem principal. Até fiquei pensando se eu mesma não tinha  sinais da doença em mim. Meus brancos, os esquecimentos eram bem parecidos. Hipocondria à parte, nós realmente pensamos como é sutil a linha da sanidade e do alheamento. E isso a autora sabe descrever. Eu, como suicida em potencial, concluo: eu poria fim aos meus dias antes do breu total...
Um bom livro.
Passagens:
"Foi no dia que me esqueci qual sapato pertencia a qual pé, tomei o café da manhã duas vezes e me esqueci do nome da minha filha."
"É melhor ficar com o demônio que já se conhece."
"Quando penso em amor, tenho a impressão de pensar em algo externo a nós. Algo mais do que apenas sexo e romance. Acho que, quando nos formos, o que  restará de nós é o amor."
"Acredito no direito de escolha da mulher, mas nunca me ocorreu que, se eu estivesse nessa situação, escolheria a vida - embora, de fato, quando penso nisso, fica absolutamente óbvio: minha mãe me escolheu."
"Não a verei passar nas provas nem entrar na universidade; não a verei usar beca, tornar-se piloto de guerra ou ninja ou Doctor Who, que é sua maior ambição. Não a assistente - isso ela não quer -, mas o próprio Doctor. Vou perder todas essas coisas. A vida vai se passar por mim e não saberei nada a respeito, isso supondo que até lá meu cérebro não tenha se esquecido de informar aos meus pulmões como respirar e eu ainda esteja viva. A morte talvez seja preferível: se o céu e os espíritos de fato existirem, eu poderia olhar para ela, olhar para todos eles. Eu poderia ser um anjo da guarda, mesmo ainda sabendo que os anjos da guarda são estraga-prazeres. Além disso, não acredito em Deus, o que provavelmente me impediria até de me inscrever para processo seletivo, convencê-lo durante a entrevista: 'O que me diz de oportunidades iguais, Deus?', perguntaria."
"Agora eu me pergunto o que é felicidade. Fico pensando no que as emoções são, de fato, se podem ser alteradas e modificadas por plaquetas no meu cérebro ou pelos pequenos êmbolos."

Rowan Coleman
Rowan Coleman
Autora bestseller do Sunday Times e do New York Times. Além de tentar acompanhar o crescimento dos filhos e as aventuras de uma família alargada, Rowan dedica-se à escrita, sendo autora de mais de uma dezena de romances.
Os seus livros já foram traduzidos em países como Alemanha, França, Itália, Polónia, Rússia, Sérvia ou Turquia. O seu romance The Memory Book foi selecionado para o Richard and Judy Book Club, e Runaway Wife foi o romance vencedor do Best Romantic Read 2012.
[Fonte: Wook]
Mora em Hertfordshire, Inglaterra, com o marido, 5 filhos e 2 cachorros.
Quando ela tem a chance, Rowan gosta de dormir, sentar-se e adora ver filmes; ela também está tentando aprender a cozinhar.
Apesar de ser disléxica, Rowan adora escrever e The Memory Book é seu décimo primeiro romance, que foi escolhido como uma seleção de clubes Richard e Judy em 2014.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

O harém de Kadafi - Annick Cojean


Soraya torna-se uma das amazonas de Kadafi não por escolha, mas porque foi praticamente sequestrada e presa para satisfazer os desejos mundanos do ditador da Líbia. Ela e várias mulheres usadas e prisioneiras de um lunático  e maníaco personagem real que julgava-se deus. 
Uma história real, até metade do livro a escritora relata a vida de Soraya e toda a trajetória como vítima de Muamar Kadafi. Na segunda metade do livro, a escritora traça o caminho da garota vítima, encontra novos personagens, debate sobre o ditador. 
Um livro que impressiona por sabermos que trata-se de algo que aconteceu de fato, se bem que não  creio na história completa quando quem escreve não viveu de fato do lado de quem relata, nem foi vítima do mesmo destino, nem teve contato com o outro lado. Aconteceu, realmente creio, mas vamos dar um corte em tal perversidade. Assim como o livro é escrito como 50% de ficção sem ser, vamos crer em 50% do qe é exposto. 
Um livro razoável.

Não há segunda chance - Harlan Coben

Marc acorda na uti depois de alguns dias em coma. Abre os olhos para uma realidade difícil: a mulher estava morta, assassinada e a filha de seis desaparecida, sequestrada, como descobre depois. Todos vítimas de um atentado, não sabe se assalto ou do que se tratou as balas que mudaram o rumo de sua vida. Ele vai precisar de toda a força que ainda resta para descobrir os motivos,  os autores e o paradeiro da filha. Só que ele é um dos principais suspeitos... 
Essa é a trama do livro. Um policial bem eletrizante. Pra quem aprecia livros que, do início ao fim, surge pistas e novos detalhes, é uma excelente dica.

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

"O homem que não conseguia parar" - David Adam

Antes que você se pergunte se tenho TOC (transtorno obsessivo compulsivo), informo: não.  Claro, não pego diretamente em maçanetas de portas, nem na parte que se empurra os carrinhos de supermercado, gosto de trabalhar com álcool do lado (atendo público) e, a cada digital tirada, limpo bem as mãos, além de limpar sempre  a caneta destina aos clientes (sim, não uso a mesma, óbvio). Isso eu chamo de limpeza, cuidado, não TOC. Já pensaram na imensidão de germes sedentos que pairam nesses objetos?
Continuando. Não pense que esse livro de David Adam vai te ensinar como se livrar do TOC. Ele faz uma explanação do que é a doença, dá exemplos, contextua historicamente, ele mesmo tendo TOC.
Como já avisei que esse blog há spoilers, alerto que nesse livro ele dá uma desanimada  em quem quer se curar do problema. Não chega a conclusão nenhuma.
Que mais? Nada. Enche linguiça, assim como eu  aqui a falar sobre esse livro que nada trata além do elementar.

Algumas passagens:
"O toc é o quarto transtorno mental mais comum, atrá apenas do trio depressão, abuso de substâncias e ansiedade. O toc é duas vezes mais comum que o autismo e a esquizofrenia. A Organização Mundial de Saúde classificou o toc como a décima doença mais incapacitante. O impacto desse transtorno na qualidade de vida foi considerado mais grave do que o da diabetes. Mas quem sofre de toc costuma demorar uma década ou mais até procurar ajuda"

domingo, 11 de outubro de 2015

Ressurreição - Machado de Assis

Um  de  meus escritores favoritos: Machado de Assis. Quando digo que estou lendo Machado, algumas pessoas perguntam se vou fazer vestibular, se é concurso... que preconceito, povo leigo! Não  leio Machado, eu converso com Machado, ninguém escreve como ele.
Hoje reli Ressurreição, o primeiro romance escrito por ele em 1872. Ah, revi a raiva que senti de Félix, a dó da viúva Lívia, a chateação pelo Luiz, o alívio por Raquel e Moreirinha. Quem escreve melhor sobre posse, ciúmes, cólera, relacionamentos que Machado? Ele nos arrebata. 
O bon vivant Félix, que acreditava que todo romance tinha prazo de validade vencido a cada seis meses vê-se nas teias do amor quando reencontra a viúva Lívia, que também cai de amores por ele, o médico solteirão. Claro, não fosse o suscetível Félix tão melindrosamente e fantasiosamente propenso a crer no que o ego cria em sua mente. Essa é a trama principal da novela machadiana. 
Gosto de tudo do escritor, sempre recomendo, quem quer iniciar na arte da leitura (melhor antidepressivo do universo),  comece por Machado que se apaixona por ler.

"... os meus amores são todos semestrais; duram mais que as rosas, duram duas estações. Para o meu coração um ano é a eternidade. Não há ternura que vá além de seis meses; ao cabo desse tempo, o amor prepara as malas e deixa o coração como um viajante deixa o hotel; entra depois o aborrecimento - mau hóspede."

"Purgatório não é uma porta que abre para o Céu? Cada qual sabe amar a seu modo; o modo pouco importa; o essencial é que saiba amar."

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Colega de Quarto - Victor Bonini

Eric Schatz, rico herdeiro de donos de uma badalada revista nacional, mora em um apartamento de luxo. Sozinho. Ou ele acha que mora sozinho, pois começa a perceber um par de chinelas que não é seu, o microondas que se liga sozinho na cozinha, o banheiro que é  usado e não é ele que está ali... como explicar esses fenômenos? Então ele decide procurar um detetive particular para ajuda-lo. Ou talvez seja tarde demais para essa decisão.
Essa é basicamente a trama ou a sinopse que encontrará por aí. Minha opinião é que se trata de um livro fraco, que se explica de uma vez no final sem deixar pistas para que o leitor vá supondo ou se surpreenda. Gosto de autores nacionais, então sempre vou procurar conhece-los. Mas às vezes cai algo como esse nas mãos, faz parte do processo de conhecimento.
Toda leitura vale a pena. Então vão em frente.

O Vilarejo - Raphael Montes

O autor Raphael Montes constrói o livro com sete contos ligando aos sete pecados capitais (Asmosdeus-luxúria, Belzebu-gula, Mammon-ganância, Belphergor-preguiça, Satan-ira, Leviathan-inveja, Lúcifer-soberba) que se comunicam entre si. Terror, juntando o que pode haver de mais vil na alma humana à presença do demônio.
A construção dos contos se baseia nuns livros deixados por uma anciã morta, cuja  neta deseja se desfazzer do material deixado pela bisavô. 
Um vilarejo localizado em lugar nenhum, abandonado, isolado do mundo, onde as pessoas se consomem literalmente, o terror é a rotina e o ser humano é desnudado em sua realidade. A tentação é maior que a moralidade ou senso de decência. Sangue, terror e morte. Ou seja, maravilhoso.
Banquete para Anatole ou Belzebu, Felika luta mara manter todos bem alimentados, já que não há comida no vilarejo, enquanto o marido Anatole não retorna da viagem em busca de caça. Mas Anatole volta. E se surpreende: a mulher estava até mais gorda! E os filhos,?
As irmãs Vália, Velma e Vonda ou Leviathan. Vália, a mais velha está noiva do único rapaz bonito e simpático do vilarejo. Velma e Vonda são gêmeas,sempre inventam estórias com os moradores do vilarejo. Aí a irmã mais velha torna-se personagem. E percebem o que ela tem... 
O negro caolho ou Lúcifer. Um negro chega ao vilarejo e logo é visto com maus olhos pelos moradores, chegando quase a ser morto pelas mãos de Ivan, não fosse Helga salva-lo. Aliás, não apenas o salva como o acolhe, dá comida e teto, enquanto ele o ajuda nos afazeres de casa. Mas não deveria ser empregado? Pode ser, mas ela não foi benevolente? Ele não pode exigir nada em troca? Não, ela o trata bem. E como ele poderá ir em busca das filhas roubadas? Isso é demais para a boa alma de Helga...
Enfim, não irei detalhar cada um dos sete contos. É spoiler demais para um livro só. O que gostei mais foi Helga e o negro. Se bem que Ivan é um personagem fascinante... não há melhores: todos são ótimos!
Ilustrações muito boas compõem o livro.
Sou fã de Raphael Montes. Leio tudo o que ele publica e, mais uma vez, ele me surpreendeu. Fiquei mais fã ainda.

Ovelha - memória de um pastor gay - Gustavo Magnani

Evangélico, pastor, filho de uma fanática religiosa, casado um uma ex-prostituta e gay. Poderia parar por aí, mas o protagonista tem desvios e fantasias sexuais que alimenta e são mais fortes que sua fé. A palavra que mais consta no livro é cu. Duas letras juntas que falam tanta coisa nesse livro! Confesso, ri feito doida de algumas passagens, imaginando um pastor evangélico com trejeitos afeminados dizendo glória aleluia cheio de purpurina na alma. E esse dito pastor está em um hospital e escreve sua estória e suas taras ali mesmo, no leito. Pegou o vírus da aids.
Interessante no livro que ele cita trechos bíblicos falando sobre a homossexualidade e sexualidade.
Gostei da forma que foi escrita, do humor. Poderia não ter usado tantos detalhes sórdidos da sexualidade do indivíduo, mas não tira o brilho do livro. Sem falar que adoro livros polêmicos.
Proibidíssimo para menores de 25 anos.
Há erros de português na edição digital, o que me deu vontade de abandonar a leitura. Deus é escrito em letra minúscula, mamãe em maiúscula.
Leiam! Muito bom!

"O Ateneu foi, como sempre, escondido. A maneira que a obra me tocou fez com que eu fosse desatento, e Mamãe pegou-me com em mãos."

"'Isso não é de deus!', disse ao meu melhor amigo, aos doze anos,quando ele me confessou gostar de meninos. Antes de falar, titubeei. Não sabia se confessava 'eu também' ou se repreendia em nome de Jesus, o todo-poderoso.(...) Eu só pensava em Mamãe gritando 'melhor morto do que bicha!', ao pedir às irmãs que orassem por mim".

"Quando refaço o caminho até aqui, vejo como meu percurso foi cerceado pela figura de Mamãe. Grandes chances de ela ser culpada por eu estar internado, inclusive. Não me fez apenas filho, mas também pastor. Advogado, médico, administrador, cientista, jogador, empresário. Nunca tive opção. Covarde, já disse, senhor. Pelo amor que sempre tive por Mamãe, limitei-me à igreja. Lamentava sua solidão e seguia seus passos: de segunda a segunda no templo."

"Agora que o senhor sabe o que de fato sou, talvez não me perdoe. E, se simpatizava com minha figura, talvez a odeie. Eu odiaria. Nunca fui fã de vilões ou de anti-heróis, mas prestar essa alcunha a mim é denegrir a classe de tão bons personagens. Estou mais pra indigente literário: sem classificação para cair morto - e ai se o senhor pensa que por isso me considero especial."


A Cor do Leite - Nell Leyshon

Mary é uma adolescente analfabeta no ano de1831 e trabalha arduamente na lavoura e em casa junto com três irmãs. Aprende a ler quando vai trabalhar contra sua vontade em uma casa de família de um presbítero como empregada. O livro é como um diário em primeira pessoa lembrando seus últimos anos até o momento que escreve as memórias. Assim, a escrita é feita como pelas mãos de quem não tem estudo, com erros de grafia, pontuação. Mary tem os cabelos e pele brancos como o leite. O avô, idoso, dependente, é a pessoa que ela tem mais afinidade em sua casa.  
Não se trata de uma estória de uma pobre coitada, passiva, mosca morta. Mary tem opiniões, personalidade forte, trabalha muito e tem objetivos. Um deles é aprender a ler e vai às últimas consequencias para chegar a fazê-lo.
Um livro surpreendente. 
três estrelas.

"às vezes é bom ter lembranças por que elas são a história da nossa vida e sem elas não ia ter nada. mas tem vezes que a memória guarda coisas que a gente não quer nunca mais ouvir falar e não importa quanto a gente tenta tirar elas da cabeça. elas voltam."

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

A Sorte do Agora - Matthew Quick

Sem formação acadêmica em literatura, falta-me o saber necessário definir esse estilo em que o autor escreve como se fosse a sequencia de pensamento do personagem, mais ainda se esse personagem tem alguma limitação mental. Gosto dessa forma de escrita. O que mais gostei nesse estilo foi "A cor do leite" de Nell Leyshon, que ainda irei comentar.  
Em A Sorte do Agora, Bartholomew Neil, o personagem principal do livro de Quick, tem essa limitação. Foi criado sem pai, a mãe fez dele sua companhia, mesmo quando estava no auge de um câncer que a impedia de pensar claramente e chamava o filho de Richard, o Gere. Assim, Richard Gere passa a ser quase um personagem no romance, já que o livro é composto por cartas escritas para ele por Bartholomew Neil. Quando a mãe morre, recebe o auxílio de uma psicóloga contratada pelo padre McNamee, além do próprio padre, que logo se muda para a casa de Bartholomew e abandona a batina. Entra para um grupo de apoio, onde conhece mais um aloprado das ideias. Difícil adaptação viver sozinho quando cuidou e viveu com a mãe até mais de 40 anos. 
Os acontecimentos se encaixam, como uma sincronicidade, que Barth acredita piamente existir. Exemplo disso é a garota que ele observava na biblioteca, que chamava de meninatecária, ser irmã de Max, o outro aloprado da terapia. É "a sorte do agora", uma teoria que a mãe falava ao   filho.
É um livro leve, sem maiores esforços mentais (não é por conta do personagem), o final não parece óbvio, mas para mim foi desde o princípio. Mesmo cometendo spoiler nesse blog (não sei ser diferente, desculpa), não vou detalhar os papéis de cada um dos personagens do livro, menos ainda do papel de Gere.  
Mas não se preocupe: Bartholomew não morre!! ELE não. 
Duas estrelas.

Passagens:
"'Como a gente vai pagar essa porra? Elizabeth e eu estamos falidos! Este hotel deve custar dinheiro pra caralho! Que merda, heim?'
'Padre McNamee disse que Deus proverá', respondi
'Você acredita mesmo em Deus, porra?', perguntou Max.
'Sim', falei. 'Você acredita mesmo em alienígenas?'
'Sim, porra', disse Max."

"Sorrir realmente não fazia sentido se considerássemos todo o contexto. Sem dinheiro, sem um trabalho 'real' e nhuma ideia do que faríamos quando voltássemos à Filadélfia, nem de quem estaria pagando as contas, que foram integralmente quitadas, mas que continuavam chegando à casa da minha mãe. Para ser sincero, nós três éramos uma trágica confusão emocional."

"(...) Comecei a entender porque ela acreditava na Sorte do Agora. Acreditar - ou até mesmo fingir - faz a pessoa se sentir melhor com o que aconteceu, independentemente de ser verdade ou não."



Casa de praia com piscina - Herman Koch

Marc Schlosser é um médico clínico geral, tido como "médico da família", seus atendimentos são personalizados, dedicando tempo a ouvir os pacientes, por isso  tem  uma razoável clientela. Faz um bom exame, pergunta, 20 minutos por consulta, apalpa, sorri, passa remedinhos, aconselha, espera morrer. Ótimo profissional. Aparentemente. Tudo na aparência tem outra leitura. Você nunca assinaria um contrato com um banco se soubesse o que vai pela cabeça do gerente. E pela de um médico? Melhor cuidar para não ficar doente nem precisar desse tipo de profissional. Não é de hoje que tenho aversão a advogados, médicos e policiais. Quando comecei a ler esse exemplar de Koch pensei que finalmente alguém colocava o médico tal qual percebo, inominável. Aí me empolguei com o livro. Lá vem 5 estrelas, pensei. Porém, eis que surge o ator-paciente Ralph Meier e o livro muda de rumo, de ritmo, de lógica. Marc deseja a vida do ator e persiste em sua amizade, mesmo percebendo que ele tem um caráter duvidoso? Ele aceita os convites dos  pacientes porque é o que cabe no papel de um médico que quer preservar os pagantes. Mas aí o ator-paciente persiste numa amizade mais próxima.
O médico viaja em férias de verão e fica na casa do ator-paciente, mesmo a esposa sendo contrária a essa posição.Ora, tinha Judith, a esposa bonita e disponível do ator-paciente, tinha as filhas que gostavam dos filhos de lá, tinha as festas e farra do Meier... tinha mais o que? Nada, vazio. O livro é um eterno construir e desconstruir de personagens, de filhas inocentes que são longe disso, de velhos que gostam de mocinhas, de ator sem caráter com crise de consciência na hora da morte... 
E tem o erro médico que, como sabemos que não foi erro, trata-se de assassinato. E a dedução imediata do professor na defesa do médico-psicopata? Paciência, sem lógica nenhuma!
o livro decepciona. Poderia ser estupendo, mas só só estúpido.  
Qualquer leitura é válida, então leiam e me digam.
Duas estrelas.

Passagens: 
"A tarefa de um clínico geral é simples. Ele não precisa curar as pessoas, precisa apenas garantir que nenhum paciente passe por cima dele e vá diretamente aos especialistas e hospitais. Seu consultório é um posto avançado"
"Dói aqui e aqui, e às vezes tenho espasmos ali... eu me esforço para fingir interesse. Enquanto isso, rabisco em um papel. Peço que se levantem, que me acompanhem à sala de exames(...). Finjo olhar, mas estou pensando em outra coisa. Em uma montanha-russa em um parque de diversões.(...) Já pode se vestir, digo. Já vi o bastante. Vou receitar um remedinho."