sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Ovelha - memória de um pastor gay - Gustavo Magnani

Evangélico, pastor, filho de uma fanática religiosa, casado um uma ex-prostituta e gay. Poderia parar por aí, mas o protagonista tem desvios e fantasias sexuais que alimenta e são mais fortes que sua fé. A palavra que mais consta no livro é cu. Duas letras juntas que falam tanta coisa nesse livro! Confesso, ri feito doida de algumas passagens, imaginando um pastor evangélico com trejeitos afeminados dizendo glória aleluia cheio de purpurina na alma. E esse dito pastor está em um hospital e escreve sua estória e suas taras ali mesmo, no leito. Pegou o vírus da aids.
Interessante no livro que ele cita trechos bíblicos falando sobre a homossexualidade e sexualidade.
Gostei da forma que foi escrita, do humor. Poderia não ter usado tantos detalhes sórdidos da sexualidade do indivíduo, mas não tira o brilho do livro. Sem falar que adoro livros polêmicos.
Proibidíssimo para menores de 25 anos.
Há erros de português na edição digital, o que me deu vontade de abandonar a leitura. Deus é escrito em letra minúscula, mamãe em maiúscula.
Leiam! Muito bom!

"O Ateneu foi, como sempre, escondido. A maneira que a obra me tocou fez com que eu fosse desatento, e Mamãe pegou-me com em mãos."

"'Isso não é de deus!', disse ao meu melhor amigo, aos doze anos,quando ele me confessou gostar de meninos. Antes de falar, titubeei. Não sabia se confessava 'eu também' ou se repreendia em nome de Jesus, o todo-poderoso.(...) Eu só pensava em Mamãe gritando 'melhor morto do que bicha!', ao pedir às irmãs que orassem por mim".

"Quando refaço o caminho até aqui, vejo como meu percurso foi cerceado pela figura de Mamãe. Grandes chances de ela ser culpada por eu estar internado, inclusive. Não me fez apenas filho, mas também pastor. Advogado, médico, administrador, cientista, jogador, empresário. Nunca tive opção. Covarde, já disse, senhor. Pelo amor que sempre tive por Mamãe, limitei-me à igreja. Lamentava sua solidão e seguia seus passos: de segunda a segunda no templo."

"Agora que o senhor sabe o que de fato sou, talvez não me perdoe. E, se simpatizava com minha figura, talvez a odeie. Eu odiaria. Nunca fui fã de vilões ou de anti-heróis, mas prestar essa alcunha a mim é denegrir a classe de tão bons personagens. Estou mais pra indigente literário: sem classificação para cair morto - e ai se o senhor pensa que por isso me considero especial."