terça-feira, 29 de setembro de 2015

Cinderela Chinesa - Adeline Yen Mah

1Há a(o) filha(o) mais velha(o), a(o) segunda(o), terceira(o)... assim por diante. Adeline era a quinta filha, a esquecida, a hostilizada, a culpada pela morte prematura da mãe. Ou seja, a coitadinha. Sofre como o quê! A coisa da cinderela é por conta da segunda esposa do pai que  não gosta dos filhos do primeiro casamento do  marido, priorizando tudo aos dois filhos legítimos. Adeline só vê uma saída para agradar e chamar a atenção do pai: ser uma boa aluna, receber prêmios na escola. Conta apenas com o amor da tia e dos avós.
Esse é o drama do livro. Esperava mais quando li a sinopse. Razoável.

A Garota no Trem - Paula Hawkins

1Há tempos não sentia raiva do sono por não me deixar ler, por no dia seguinte a manhã me chamar às responsabilidades... e tudo por conta desse livro, um policial com muita carga psicológica, bem amarrado, bem escrito. Vontade de ler, como uma compulsão. Será normal?
Vamos ao livro.
Rachel, Anna e Megan. Três vozes que falam em primeira pessoa envolvidas num mesmo emaranhado repleto de complicações chamado mente humana ou "onde minha vida me fez parar".
Não que a trama se desenrole por conta do trem. Porém uma situação que, de cara, me fez ficar elétrica pelo livro: a personagem observa as casas que passam pela janela do trem, ela passageira, criando nome e situações para aquelas que vê quase diariamente, criando até um laço mental fictício mas concreto. Isso me pareceu tremendamente familiar.
A solidão que acompanha Rachel em seu trajeto diário é amenizada pela bebida. Alcoólatra, desempregada, morando de favor na casa de uma santa amiga, abandonada pelo marido... e como não ser depressiva?
E, acompanhando seus personagens reais-não reais da janela de seu trem, estão Jess e Jason, ou Megan e Scott, que cruzarão seu caminho de forma decisiva. Mais à frente, poucas casas adiante, passa pela janela de seu trem a casa onde viveu feliz com Tom, seu ex-marido, hoje a casa de Anna, a nova esposa odiada de seu amado Tom.
E, como se percebe, as  outras vozes do livro são Anna e Megan. Cada uma com sua caixa mental recheada de dramas psicológicos.
Vale a pena o livro. Eu mais que recomento. Muito tempo não dava cinco estrelas a um livro. Poderia dar uma constelação inteira.

"(...) ser católico devia ser divertido, poder ir ao confessionário e se livrar do peso na consciência e ouvir alguém dizendo que você está perdoado, que você está livre dos pecados, totalmente zerado"
"(...) há uma coceira no fundo do meu cérebro que não consigo coçar"
"Com a cabeça encostada na janela do vagão, vejo essas casas passarem como num filme. Ninguém mais as enxerga como eu: nem seus donos as veem deste ângulo. Duas vezes por dia, tenho a oportunidade de espiar outras vidas porum breve momento."
"Estou sóbria, de cara limpa. Há dias em que me sinto tão mal que preciso beber; há dias que me sinto tão mal  que não consigo beber. Hoje, só de pensar em álcool meu estômago já fica embrulhado."

Sal - Letícia Wierzchowski

2Cecília, antes adolescente criada do funcionário que guardava o farol na isolada ilha La Duiva, depois esposa do filho dos patrões, depois mãe de 5 filhos, para, afinal ser a guardiã solitária do dito farol. Enquanto tece seu tricô, relembra a estória, outra hora a filha ou outro filho a reconstrói, algumas em primeira, outras em segunda pessoa. Os capítulos são nomeados pelas cores que tece, uma para cada filho.
Uma das filhas, ávida por leitura, decide escrever a estoria da família Godoy, a voz que inicia o livro. Depois se intercala com outros personagens.
Fico encantada em ler a autora, porque ela escreve quase poeticamente. Puro prazer em ler.
Mas o livro tem seus buracos negros. É uma ficção e, portanto, não podemos  questionar. Mas lógica poderíamos exigir da trama. Por exemplo, como prever a chegada de um estrangeiro, ele chegar e saber o que ele faria com a família? Isso é um spoiler, eu sei, mas não resisti. Desculpem. Mas há outros furos, esses deixo para quem for ler e, quem sabe, me ajude.

Clímax - Chuck Palahniuk

2Depois de ler "clube da luta", claro que fui ávida ler mais um do autor.
E lá vai a trama: Penny, uma moça ambiciosa, estagiária num escritório de advocacia, chama a atenção do homem mais rico,bonito, charmoso Max, tudo que um personagem 50 tons poderia ter direito. E o comparativo com os tons não param por aí. Ainda não li esse 50 tons, mas, de tanto falarem, acho que nem tem mais graça lê-lo, a estória já sei toda. Voltando, Max se encanta pela pobre e desamparada Penny e começa a fazer com ela experimentos sexuais. Sim, experimentos. Brinquedinhos. Estímulos. Essas coisas. Tudo para o fabricação de objetos sexuais para o público feminino. E a estória é em torno das torturas (nem tanto torturante assim, claro), para aprimorar os ditos objetos viciantes, que se tornam febre, um vício para as mulheres. Envolvida com o tão famoso personagem, a moda e outros mundos se abrem para Penny. Diria que o livro é bem detalhista e o autor deve ter pesquisado bastante sobre o assunto.
Razoável. As passagens para apreciação de um possível leitor que poderia colocar nesse post poderia considerá-lo proibido para menores, então sem trechos.

Moça Com Brinco de Pérola - Tracy Chevalier

2A autora Tracy Chavalier do livro homônimo publicado em 2003 escreveu o que muitos de nós por vezes fazemos ao contemplarmos uma maravilhosa obra de arte: imaginou uma estória por trás da personagem. Não se sabe de quem de fato se trata a moça retratada pelo pintor, pouco se conhece da biografia dele. E a viagem da escritora foi feliz, dando a uma criada da casa do pintor, que vivia com a sogra, esposa e uma montanha de filhos, um  papel sensual, ingênuo, puro. Trabalhando para ajudar a família, a jovem chama a atenção de abastado comerciante, além de exercer um certo fascínio sobre o pintor.
Cada um tem seu olhar quando se trata de uma obra como a de Vermerr, se a autora interpretou a personagem com tais olhos, pessoalmente a vejo como uma moça bem oposta ao que ela retratou.
A estória foi levadas às telonas em 2013 (se não me engano), com todo glamour merecido.
Um bom livro. Lê-se de uma viste só, bem descritivo. Recomendo.

Paixão em Florença - W. Somerset Maugham

0Mary é viúva e não propriamente uma viúva chorosa do marido morto.O casamento já ía ladeira abaixo, o marido morre e ela herda a falta de dinheiro. Ainda bela, despertando paixões, decide passar uma temporada em Florença logo após a viuvez. Lá reencontra um amigo de seus pais, apaixonado, que a pede em  casamento, conhece Rowley, um bon vivant que, numa conversa de pé de orelha, jogando seu charme, desperta no subconsciente de Mary algo que não estaria tão inconsciente: a vazão ao desejo e o proibido. Mas não com Rowley, por mais que ele tente, com um estranho que encontra na estrada. Daí envolve-se numa intriga, que faz o rumo de seus planos para um futuro mudarem. Nem o rico conhecido apaixonado do passado, nem Rowley, nem  o estranho. O que fica é a consciência.
Empolgação na leitura, por conta do  autor, mas é um livrinho razoavelmente ruim. Não recomendo.

A Máquina de Contar Histórias - Maurício Gomyde

"A máquina de contar histórias" Mauricio Gomyde
"A máquina de contar histórias" Mauricio Gomyde
Adoro escritores novos, nacionais. Segundo livro de Gomyde que leio. Depois de  "O rosto que precede o sonho" de 2012, imaginei que o romance "A máquina de contar histórias" fosse mais maduro, mais denso, menos previsível, mais ousado. A lógica seria que esse último seria anterior ao primeiro, assim  justificaria o livro infanto juvenil que li.
Enredo: depois de perder a mulher na luta contra a leucemia, o escritor Vinícius Backer tenta reconquistar as filhas Valentina e Vida, procurando compensar a figura de pai ausente.
O que extrair de tal enredo? Pois é... o escritor vestiu a carapuça de bom moço, certinho e escreveu a trama tal e qual se desenhou na mente de quem lê essa curta resenha.
Não pretendo ler outro do escritor, porque gostei do primeiro, dei uma estrela (de cinco) pro segundo (este que tento tratar aqui). Onde chego no próximo?

Desonra - J. M. Coetzee

1
Através da estória de um professor universitário, detalha poder, classes, violência, preconceito.
Laurie envolve-se com uma aluna, fato que o leva a passar uns dias visitando a filha, buscando respostas às suas necessidades e vivendo situações de tensão na realidade envolvendo a recém-liberta África do Sul da divisão pela cor da pele.
Um livro forte, mas não impressiona. Mesmo assim, uma leitura que vale a pena ser apreciado.

A Terapeuta - Gaspar Hernández

a terapeutaAo encontrar Marina C. alvejada por tiros, agonizante, o ator Héctor Amat tem um ataque de pânico e esquece o evento que envolve os instantes do acontecimento. Com isso, vai à procura da terapeuta Eugênia Llort para recuperar a memória e por conta dos ataques de pânico que adquire após o ocorrido.
O livro prometia, no início, até me empolguei, porque envolve temas que gosto. Pensei se tratar de um exemplar com pesquisa mais densa do assunto, não o senso comum, a previsibilidade de uma estória sem sal. Mas prometia. Apenas não cumpriu.
Não recomendo.

Suicidas - Raphael Montes

Alessandro ambiciona tornar-se um escritor de sucesso, porém os livros que escreve são recusados pelas editoras. Também não possui recursos financeiros para lançá-los independente. Tem um grande amigo desde a infância, Zak, um garoto mimado e rico, filho de Maria Claria e Getúlio Cavalcante, amigos de sua mãe também. Com a avó de Alessandro internada, porque enlouqueceu depois da morte do marido (não! Não é por saudade, mas assombrada porque ele poderia voltar pra bater mais nela), a mãe com diagnóstico de câncer, junta-se a mais oito jovens, entre eles o amigo Zak, para cometerem o suicídio numa roleta russa. Alessandro então escreveria o grande livro da sua vida, narrando incessantemente o que acontece no porão onde se fecharam os nove suicidas, certo que seria um grande sucesso póstumo.
No livro, temos as narrativas dele na noite e início da madrugada na roleta russa, os escritos do diário/livro encontrado em seu quarto pelos policiais após sua morte e, uma terceira narrativa, as mães dos filhos mortos sendo interrogadas, um ano depois da tragédia.
O livro surpreende e prende na leitura, porém, ao final, algumas lacunas ficam sem respostas, aqueles porquês, comos, ondes. Esclarecimentos de ligações entre fatos importantes para dar mais realismo à trama. Poderia considerá-lo muito bom não fosse esses espaços vazios sem explicações.
Somado a esses "buracos negros", os inexplicados que não foram esclarecidos, há a falta de motivos (exceto o personagem Lucas) reais para a decisão de morrer. Vagos demais, carecia mais densidade nos personagens, mais exatidão.
Dei três estrelas na avaliação porque o livro me prendeu, mas, na realidade mesmo, não vale duas. Pelo escritor, que sou uma fã ardorosa, daria tantas estrelas quanto houvesse a dá-las.

Raphael Montes
Raphael Montes

Nasceu em setembro de 1990, no Rio de Janeiro. Advogado e escritor, teve contos publicados em diversas antologias de mistério, inclusive na Playboy, na antologia "Rio Noir" e na prestigiada revista americana Ellery Queen’s Mystery Magazine.
Aos 20 anos, impressionou a crítica e público com um suspense policial finalista do Prêmio Benvirá de Literatura 2010, do Prêmio Machado de Assis 2012 da Biblioteca Nacional e do prestigiado Prêmio São Paulo de Literatura 2013. Em breve, será publicado em nova edição pela ed. Companhia das Letras Aos 24 anos, publicou Dias Perfeitos (ed. Companhia das Letras). O romance foi um fenômeno: teve os direitos de tradução vendidos para 22 países e foi escolhido como Livro do Mês na Amazon norte-americana. No exterior, o livro mereceu resenhas em jornais como The Guardian e Chicago Tribune, recebeu elogios de autores internacionais e foi considerado uma espécie de “irmãos Coen brasileiro”.
Em agosto de 2015, Raphael publicou seu terceiro livro, O Vilarejo(ed. Suma de Letras), um romance fix up de terror que fez grande sucesso entre o público jovem e mereceu comparações com Stephen King.
Em dezembro de 2016, publicou Jantar Secreto (ed. Companhia das Letras), integrando a lista de mais vendidos daquele mês e com direitos de tradução vendidos para França, República Tcheca, Espanha e Polônia.
Todos os seus livros tiveram os direitos de adaptação vendidos para o cinema e estão em produção. Atualmente, Raphael assina uma coluna semanal no Jornal O GLOBO e escreve roteiros para cinema e TV. [Fonte: https://www.raphaelmontes.com.br]

Cemitério de Pianos - José Luis Peixoto

1O livro é uma sucessão de estórias de Franciscos Lázaros. O próprio existiu, lá pras bandas de 1912, um maratonista português que faleceu numa disputa de Jogos Olímpicos em Estocolmo. O autor partiu de dados biográficos do atleta, mas garante que há muita ficção no relato. Esse dito Francisco Lázaro é filho de outro Francisco Lázaro, que está morrendo logo no início no livro, enquanto sua filha primogênita dá a luz Hermes, em outro hospital. Mas há um terceiro Francisco Lázaro, que só se percebe no decorrer da trama, quando ligamos o tio (irmão do Francisco primeiro) que não tem um olho e, portando, não é o que morre de início, mas o que não morre (putz! spoiler, desculpa!), que nasce no dia em que o pai morre na maratona.
Complicado? É, concordo, mas aí que está a graça do exemplar!
É um livro tão bem escrito que faz com que se concatene os diversos entrelaçamentos de estórias, buscando o fio que ligue a qual voz em primeira pessoa fala no momento. Mas tem se ter atenção para não confundir as bolas, ou melhor, os Franciscos. Marta, Maria, Simão e Francisco Lázaro (os três) são os personagens nominados, os demais são "minha mulher", "marido de Marta", "marido de Maria", etc...
Excelente livro. Fiquei fascinada pelo autor, vou em busca de outras obras dele, como "Nenhum Olhar" (livro que recebeu prêmios),  "Livro", "Uma casa na Escuridão"... devora-los-ei!!!
Mais que recomendo. Excelente.
Passagens:
"Nas histórias que o meu tio contou durante esses dias, percebi um pouco mais da minha própria história. O meu pai, como o seu pai antes dele, tinha passado anos a fazer portas e janelas porque não conseguia sobreviver apenas de consertar pianos. Na maior parte do tempo, o meu pai fazia portas e janelas, fazia bancos para as pessoas se sentarem, fazia mesas a desejar que as pessoas tivessem pratos de sopa para pousar nelas; mas, em todas as ilusões, escutava pianos, como se escutasse amores impossíveis. Quando acabava de consertar um piano, sozinho, sem saber uma nota, o meu pai fechava a oficina toda para, no centro da carpintaria, tocar músicas que conhecia e músicas que inventava."
"A verdade, como o silêncio, existe apenas onde não estou. O silêncio existe por trás das palavras que se animam no meu interior, que se combatem, se destroem e que, nessa luta, abrem rasgões de sangue dentro de mim. Quando penso, o silêncio existe fora daquilo que penso. Quando paro de pensar e me fixo, por exemplo, nas ruínas de uma casa, há vento que agita as pedras abandonadas desse lugar, há vento que traz sons distantes e, então, o silêncio existe nos meus pensamentos. Intocado e intocável. Quando volto aos meus pensamentos, o silêncio regressa a essa casa morta. É também aí, nessa ausência de mim, que existe a verdade."
"(...) Quando ia treinar, passava pelas ruas a correr e ninguém podia imaginar o mundo de palavras que levava comigo. Correr é estar absolutamente sozinho. Sei desde o início: na solidão, é-me impossível fugir de mim próprio. Logo após as primeiras passadas, levantam-se muros negros à minha volta. Inofensivo, o mundo afasta-se. Enquanto corro, fico parado dentro de mim
e espero. Fico finalmente à minha própria mercê."
"Tudo o que conseguiu foi sem ti, contra ti. E o tio Simão? Não podes ter esquecido todo o mal que lhe fizeste. Não o perdeste na noite que jamais poderás esquecer. Perdeste-o muito antes. também eu, a minha irmã, a Elisa, o Hermes. Tu morreste, estás morto, mas os teus erros continuam vivos. Os teus erros continuam."
"Havia muito tempo que eu conhecia a minha solidão: todos os pensamentos que tinha sobre o silêncio, palavras a perseguirem um eco que nunca alcançavam. Era na dificuldade da minha solidão: caminho negro de estátuas: que eu me edificava. Aquela manhã era feita de momentos que pertenciam a esse tempo. A serradura que cobria o chão tornava-me silencioso."
"Ainda era pequeno os rapazes da minha idade pensavam em brincadeiras, não queriam que chovesse e eu, sempre, sempre, com um peso negro no peito. Por um momento, a Maria a dizer alguma coisa engraçada, a nossa mãe contente, eu contente e, logo a seguir, ou nesse mesmo momento, a lembrar-me do peso negro: chumbo: que nunca me desaparecia do peito. A ser talvez inverno, noite, a cozinha, e a Marta a falar de algo apenas bom. O nosso pai num silêncio satisfeito. E eu, quase bem, excepto pelo peso que nunca desaparecia, que eu tinha a certeza que nunca iria desaparecer do meu peito. E nunca desapareceu, nunca desaparecerá aquele fim de tarde, a luz entre os ramos dos pessegueiros (...). Nunca me esqueço e, para lembrar-me sempre, sempre, tenho um peso negro que nunca me desaparece do peito. A culpa."

Como Eu Era Antes de Você - Jojo Moyes

Tenho total capacidade sobre minha decisão de viver. Tenho? Uma questão polêmica que é tratada no livro, quando o personagem Will, tetraplégico, decide recorrer à morte assistida e não continuar com a vida limitada que levava após o acidente.
Escolhi esse livro por ler vários comentários a respeito, pessoas até que chegaram às lágrimas com sua leitura. Lágrimas vertidas de meus olhos o livro não trouxe, mas me emocionou sim. Dois pontos: a decisão de Will de querer morrer e a forma de vida de Louise, que, não fosse seu humor e desprendimento, quem sabe a decisão do seu patrão (fora contratada como cuidadora de Will) a levasse à mesma decisão.  Mas ela nem percebia, tão acomodada estava em sua zona de conforto, aquela linha que nos impede de viver em plenitude, ou seja, a vida que o personagem que decidiu morrer tivera antes do acidente.
Gostaria imensamente de comentar o final, mas aí seria o pior spoiler que poderia haver.
Apenas deixo a indicação de um livro bom.

Ninguém quis saber - Mary Jungstedt

1O que ninguém quis saber estou querendo saber até agora. Títulos à parte, vamos ao que interessa: o livro.
Henry Dahlström (como será que se lê isso? Dálstrom?) é alcoólatra, jornalista aposentado por invalidez (bebida realmente invalida), que se dedica a fotografar - e beber, evidente-, mas que, logo no início do livro é, também, um defunto. Assassinado. Pouco antes tinha ganho um prêmio em corridas de cavalos, então a suspeita do detetive Anders Knutas seria pelo roubo ou briga entre bêbados. Em paralelo, a estorieta de Funny, adolescente de 14 anos que cuida de cavalos, da mãe também alcoólatra e do cachorro Mancha. Como sofre essa coitada! E o livro vai em paralelo nessas combinações. Cabe o desdobramento ao dito detetive e também ao jornalista  Johan, que tem um caso com Emma Winarve, casada e com dois filhos. Aí me pergunte (além do título, claro), por que se deter tanto na "paralelidade" do romance de Emma e Johan com a trama principal do livro, não faço ideia. Encher, dar mais volume, talvez? Talvez.
Livro razoável. Não, menos.

Nu de botas - Antônio Prata

1Antônio é um garotinho esperto entre os três até quase os cinco anos que conta seu mundo na perspectiva infantil, seus amigos de infância, questionamentos típicos de uma ótica de criança com lógica. São relatos de sua vida, escrito em primeira pessoa, falando dos pais, o amor enorme pela mãe, a presença das irmãs, a separação dos pais, os amiguinhos, a escola, as descobertas. Escritos de um adulto na memória de sua infância.
Um livro leve, engraçado, curto. Recomendo.
Trechos:
"Eu tinha medo do Caio, mas um pouco de pena, também. Supunha que pelo menos parte de sua inadequação se devesse ao batismo: afinal, era ou não mau augúrio vir ao mundo com a queda no nome?"
"Cada vez que íamos começar a série com uma nova consoante, eu tentava antecipar as palavras que poderiam surgir. D e A formavam  Dá, L e E formavam Lê, L e I formavam Li… E foi essa prática antecipatória que me fez tremer quando a professora começou a série do C. “C e A?”, ela perguntou, e enquanto todos respondiam “Ca!” só consegui pensar que chegaria a vez do U e a classe gritaria, em uníssono, a sílaba proibida."
"Era aquela coisa de sempre: um monte de parentes e outros adultos mais ou menos conhecidos mexendo no meu cabelo, na minha bochecha e na minha barriga, dizendo que eu estava grande e bonito. Uma mulher ruiva e muito perfumada me deu um beijo babado na testa e disse que tinha me visto nascer — ela me viu nascer, o seu Duílio me viu nascer, eu devia ter sido parido diante de uma arquibancada, só podia ser. Um gordo cruzou a sala, me levantou e ficou repetindo, com bafo de cerveja, alternando olhares entre mim e meu padrasto: “É corintiano?! É corintiano?! Hein, é corintiano?! Diz: corintiano, ahn?!”. (...) O seu Duílio estava sentado numa poltrona, num dos cantos da sala. Era mesmo velho pra burro. Tinha os cabelos todos brancos e um monte de pintinhas no rosto. Minha mãe o beijou. “Parabéns, seu Duílio!” Depois, meu padrasto apertou sua mão. “Oitenta, hein, seu Duílio! Daqui a pouco é noventa, já!”
O velho ficou falando umas coisas sobre fazer oitenta anos, eu fiquei olhando pra ele, fingindo que ouvia, mas a minha cabeça estava longe, lá na sala de casa, assistindo Bambalalão e provavelmente por lá ficaria até o final daquela tarde se meus olhos não tivessem, acidentalmente, ido parar na perna esquerda do aniversariante — ou melhor, num pedaço da poltrona onde deveria estar sua perna esquerda. Olhei uma vez, olhei duas, olhei três. Longos segundos se passaram até que eu pudesse aceitar o que via: a perna esquerda do seu Duílio não existia.
Que coisa espetacular. Se a minha mãe tivesse perguntado: “O que você prefere, assistir Bambalalão ou conhecer um homem sem perna?”, claro que eu ficaria com a segunda alternativa. Lembrei-me do homem que vira no circo, um dia, botando uma mulher de maiô numa caixa e a serrando ao meio. Seria seu Duílio aquele homem? Teria ele cortado a própria perna? Como? Será que ele conseguia tirar e recolocar a perna sempre que quisesse? Onde guardava a perna, quando não a usava? Numa gaveta do quarto, no banheiro, na área de serviço, junto à bicicleta? Conseguiria ele remover também outros membros?
Minha mãe me cutucou: “Ô, Antonio, não vai dar oi pro seu Duílio?”. Como não? “Oi, seu Duílio! Cadê sua perna?!” Minha mãe me olhou com uma cara estranha. Achei que ela não tivesse ouvido o que eu acabara de dizer. Falei ainda mais alto: “Olha! Olha! Ele só tem uma perna! Mãe! Mãe! Cadê a perna do seu Duílio?”. Todos na sala fizeram silêncio, até o gordo com bafo de cerveja, que narrava aos meus tios um gol do Casagrande no último domingo."
"Minha mãe propôs que caminhássemos até as pedras, que fizéssemos um castelo, disse até que poderia ler algo dos irmãos Grimm ou do Monteiro Lobato, mas o tédio tem uma bunda imensa: quando assenta as nádegas sobre nossas cabeças, achata toda a circunferência do mundo conhecido; para escapar de seu adiposo domínio, só encontrando alguma atividade inédita, em mares nunca dantes navegados."

Restos Humanos - Elizabeth Haynes

1Colin, Annabel e os mortos. O livro é saparado por capítulos, cada um escrito primeira pessoa pela bola da vez de quem é narrado. No caso nos mortos, não se trata de espiritismo, fantasmas, apenas as vítimas de Colin contando como morreram, como quiseram chegar a "indesejada das gentes", com a ajuda, claro, do compreensivo psicopata, ao fim sem dor, tal como um "vá para a luz" ou "pare de comer" [leia isso com voz mental tenebrosa pra dar mais estilo].
Annabel, gordinha, feinha, timidazinha, sem nenhuma autoestimazinha, tadinha, encontrou com o Colin... ou seja, vítima perfeita pra mente doentia do inteligente e humanamente humano personagem. Porém, Annabel não tem qualquer profissão, trabalha numa área civil da polícia e é a primeira a ligar tantas mortes solitárias na cidade. Seria coincidência pessoas solitárias, depressivas, desiludidas, serem encontradas mortas - e de fome ou causas naturais - na mesma cidade?
Gosto de suspense, até creio ter cometido spoiler, detalhei demais. No entanto, não desanime: o livro tem muito mais que isso. É um suspense legal. Legal não, muito bom. Gostei e recomendo.
Ah, os detalhes sobre PNL - assunto bem fascinante - enriquecem o livro.
Boa leitura

A Filha do Louco - Megan Shepherd

1Tragédias à parte, vamos à trágica, porém curta (por ser bem jovem a nossa heroína, não porque morre ou morreu - tampouco estou afirmando seu falecimento. Calma lá!) a vida da Juliet Moreau, órfã de mãe, tem de trabalhar duro para manter-se, subjugar-se a assédios dos mais velhos, pai supostamente morto... triste!  Pois é, mas acoitada surta, o que é até bom, porque encontra um antigo empregado da família da época em que eram ricos e tinham tais regalias (sim! Ela foi riquinha, gata borralheira mode on), que a leva para um destino inesperado, com acontecimentos mais inesperados ainda, inusitados e inacreditáveis, que envolviam o pai e seu desaparecimento, envolto num mistério misteriosíssimo que envolve seu sumiço.
Fraquinho. Essa avaliação é pra quem não gosta do estilo fantasioso de livros. Claro, pra quem aprecia deve ser uma boa dica.

Nihonjin - Oscar Nakasato

lNihonjin,  conta a trajetória de imigrantes japoneses ao Brasil, narrada em primeira pessoa pelo personagem neto de Hideo Inabata. Desde sua chegada, no porto de Santos, quando o avô Hideo foi trabalhar na lavoura com a primeira mulher Kimie e um amigo também imigrante, no início do século XX, seduzido pela propaganda do Imperador sobre as promessas que o Brasil lhes traria riquezas, até se estabelecer no bairro da Liberdade, em São Paulo, como comerciante. Japoneses que lutaram para permanecer com suas raízes, criando os filhos nas tradições que trouxeram do outro lado do mundo, com o sonho de acumular o bastante para voltar ao país de origem em condições de construir uma forma de viver mais digna, mas que ficaram, tiveram filhos, reconstruíram suas vidas no Brasil.
O livro foi vencedor do prêmio Jabuti em 2012

Minha metade silenciosa - Andrew Smith

Starak McClellan é um garoto de 13 anos com mais de 1,80 m (por isso tem o apelido Palito), portador de atonia, nasceu sem uma das orelhas, em casa é vítima das surras e castigos dos pais e, na escola, bullying. Em sua mente, sua autoimagem é um garoto que possui pouca inteligência, feio, não desejado, tem como amigos o irmão Bosten e Emily. Apesar do cenário, Stark é um garoto doce, ingênuo, que vê no irmão seu herói e unica pessoa que possui como referência e família e, quando ele foge de casa, sai a sua procura. Essa busca, no entanto, dá-se em mais da metade do livro. A vida do garoto que se julga um aleijado, diferente, anormal é traçada até o desfecho final. Um livro razoável.

A Humilhação - Philip Roth

1Axley, ator sexagenário com crise em sua carreira, acredita que seu talento para os palcos findou-se ou nunca existiu. Com esse fim, também o combustível da paixão que dava impulso a sua vida. Decide internar-se por conta própria numa clínica psiquiátrica,onde passa 26 dias. Volta, separas-se da mulher e reencontra a filha de um casal de amigos da época de seu início de carreira. Com uma grande diferença de idade entre ambos, o personagem vê-se novamente com a vida nas mãos, abdicando e enganando-se para manter a felicidade ora encontrada. Um relato impressionante sobre solidão, amor, carências humanas, autoenganos, autossabotagens, uma luta entre existir apenas ou viver e ser dono dela e fazer o que se queira dela. Fecha-se a cortina do livro tal qual uma peça teatral, deixa-nos uma impressionante marca de uma obra belíssima, real, verdadeira, trágica.
"Quando você representa o papel de uma pessoa que está entrando em parafuso, a coisa tem organização e ordem; quando você observa a si próprio entrando em parafuso, desempenhando o papel de sua própria queda, aí a história é outra, uma história de terror e medo"
"Mais de uma vez ele ficara no canto da sala de recreação, junto com o pequeno grupo de pacientes suicidas, a ouvi-los relembrando o ardor com que haviam planejado se matar e lamentando não ter conseguido fazê-lo. Todos permaneciam imersos na grandiosidade da tentativa de suicídio e na ignomínia de haver sobrevivido. A ideia de que uma pessoa fosse capaz de fazer aquilo, controlar sua própria morte, era para todos eles uma fonte de fascínio — era o assunto natural de suas conversas, como garotos falando de esportes. Alguns diziam que no momento em que tinham tentado se matar haviam sentido algo semelhante ao barato que um psicopata deve experimentar quando mata alguém."
"Quando as pessoas pensam no tema do suicídio, elas tentam explicar o ato. Explicar e julgar. É uma coisa tão horrorosa para as pessoas que são deixadas para trás que elas precisam encontrar uma maneira de encará-la. Umas acham que é um ato de covardia. Outras acham que é um crime, um crime contra os sobreviventes. Uma outra escola de pensamento acha que é heroísmo, um ato de coragem. E tem também os puristas. Para eles, a pergunta é: foi justificado, a causa era suficiente? O ponto de vista mais clínico, que não é nem punitivo nem idealizante, é o do psicólogo, que tenta descrever o estado mental do suicida, o estado em que ele estava quando cometeu o ato.” E discorria desse modo maçante mais ou menos todas as noites, como se não fosse um paciente angustiado como os outros, e sim um conferencista convidado a esclarecer o assunto que obcecava a todos dia e noite. Uma noite Axler resolveu falar — representar, ele se deu conta, diante da maior plateia que já tivera desde que abandonara a profissão. “O suicídio é um papel que você escreve para você mesmo”, disse. “Você habita e representa esse papel. Tudo é preparado cuidadosamente — onde e como eles vão encontrar você.” E acrescentou: “Mas é uma apresentação única”."
"Quando eu trabalhava realmente mal, depois eu passava a noite em claro pensando: ‘Perdi meu talento, não consigo fazer nada’. As horas passavam, mas aí de repente, às cinco ou seis da manhã, eu entendia onde tinha errado, e mal conseguia esperar a hora de voltar ao teatro e recomeçar. E aí eu subia ao palco e não tinha erro."
"Axler tentou se lembrar das peças em que um personagem se suicida. Hedda em Hedda Gabler, Julie em Senhorita Julie, Fedra em Hipólito, Jocasta em Édipo Rei, quase todo mundo em Antígona, Willy Loman em A morte de um caixeiro-viajante, Joe Keller em Todos os meus filhos, Don Parritt em A vinda do homem do gelo, Simon Stimson em Nossa cidade, Ofélia em Hamlet, Otelo em Otelo, Cássio e Bruto em Júlio César, Goneril em Rei Lear, Antônio, Cleópatra, Enobarbo e Charmian em Antônio e Cleópatra, o avô em Acorda e canta!, Ivánov em Ivánov, Konstantin em A gaivota.(...) Deirdre em Deirdre das tristezas, Hedvig em O pato selvagem, Rebecca West em Rosmersholm, Christine e Orin em Electra toma luto, Romeu e Julieta, o Ájax de Sófocles. O suicídio é um tema que os dramaturgos encaram com reverência desde o quinto século antes de Cristo, fascinados pelos seres humanos capazes de gerar emoções que inspiram esse ato extraordinário. Axler devia impor-se a tarefa de reler essas peças. Isso mesmo, tudo o que era terrível precisava ser encarado. Ninguém deveria dizer depois que ele não havia pensado bem antes de agir."

A Sonata a Kreutzer - Lev Tolstoi

1O tema da infidelidade é central na novela de Tolstoi. Os ciúmes de um marido, Pozdnishev, que culmina em assassínio da esposa. No cenário, vemos quase um tratado contra o sexo, a queda de um sonho que seria o casamento, amor, ódio, idealização do objeto (pessoa) amada, a sedução, o polêmico lado dos direitos femininos... e o ciúme. No personagem, sentimento despertado no exato momento de "lucidez" em que a esposa e o suposto amante executavam a Sonata a Kreutzer de Beethoven: a melodia perfeita para o cenário magnífico construído pelo autor russo. A forma com que é descrita é tão perfeita que nos sentimos na pele no marido que se julga traído, indo de encontro aos amantes.
Revoltemo-nos contra os pensamentos machistas e antissexistas de Tolstoi, porém não deixemos de lê-lo - o postfácio é mais uma revolta à parte.
Maravilhoso! Recomendo.
"As mulheres sabem perfeitamente que o amor, mesmo o mais elevado, o mais, poético — como nós dizemos — depende mais dos dotes físicos do que dos méritos. Perturba mais uma cabeça bem penteada, um vestido de bom corte, modelando bem as formas do que uma frase reveladora de excelsas qualidades morais. Pergunte a uma mulher experimentada qual é preferível, passar por mentirosa ou aparecer mal arranjada ao homem que pretende cativar. Ela preferirá a primeira alternativa."
"Não há ninguém tão mau que não encontre outro pior. E este pensamento é um manancial de prazer e de orgulho. Era este o meu caso. Não casava por dinheiro, como sucedia à maior parte dos meus amigos. Eu era rico, ela era pobre. E outra coisa me envaidecia. Os outros casavam, mas com a intenção de continuarem a viver na poligamia, como antes do casamento. Eu estava absolutamente resolvido a manter-me em monogamia, depois de casado. Era um miserável mas julgava-me um anjo."
"A lua-de-mel, como se pratica, é uma coisa terrível, abjecta, insuportável de tédio e cansaço. É, mais ou menos, o que acontece quando se principia a fumar; vontade de vomitar, náuseas, e vai-se engolindo a saliva para fingir que se tem um grande prazer. O cigarro, como o casamento, só provoca prazer depois do hábito, quer dizer, depois da adaptação dos casados."
"— Para que perpetuar o gênero humano? Para quê?
— Para quê?... Sem isso deixaríamos de existir.
— E para quê existir?
— Para quê?! Para vivermos...
— Mas viver para quê? Se não se tem um fim na vida, se a vida nos foi dada por si mesma não há razão para vivermos. Se isto é assim os Schopenhauer, ou os Hartman e todos os budistas têm razão. Se há um fim, desde que é atingido, a vida deve cessar. É esta a conclusão a que chegamos, disse ele com manifesta emoção (dava muita importância ao seu pensamento). Se o fim da vida é o bem, o amor, como você o entende; se o fim da humanidade é o que dizem as profecias, que todos os homens se unirão pelo amor, e que hão-de forjar-se foices com os ferros das lanças; o que se opõe à realização desse fim? As paixões. E de todas as paixões, a mais forte, a mais pérfida, a mais obstinada é a paixão da carne. Por consequência, se suprimirem as paixões, e principalmente a maior de todas, realizar-se-á a profecia; os homens unir-se-ão, o fim da humanidade será atingido e, portanto, não haverá razão para existirmos. Mas enquanto dura a humanidade ela tem de realizar o seu ideal que não é de maneira nenhuma o ideal dos coelhos nem dos porcos que é o de se reproduzirem o mais depressa possível, nem o dos macacos ou dos parisienses que é tirarem o máximo rendimento dos prazeres sexuais. Mas sim o ideal do bem que se atinge pela continência e pela pureza. É para aí que tendem os homens e sempre tenderão."
"A galinha não receia o que pode acontecer aos pintos, porque ignora as doenças que os podem matar, desconhece os meios pêlos quais os homens estão convencidos de que se preservam da doença e da morte. Ela faz pêlos pintos o que é natural e agradável fazer; os pintos são para a mãe um motivo de alegria. Se um pinto cai doente os seus cuidados estão determinados: aquece-os, alimenta-os. Fazendo isto, ela sabe que faz tudo o que é necessário. Se um pinto morre não lhe interessa saber qual a razão por que morreu, solta alguns cacarejes e continua depois a sua vida de galinha. "
"(...) O amor e o ódio eram manifestações diferentes do mesmo sentimento animal. Seria horrível compreender a situação em que nos encontrávamos, mas, nem sequer a víamos. E ao mesmo tempo a salvação e o castigo do homem."

Joana, a louca - Linda Carlino

aJoana de Castela foi a terceira de filha de Isabel de Castela e Fernando de Aragão, reis da Espanha no século XVI. Dada em casamento por interesses políticos a Felipe, arqueduque da Áustria. Após a morte dos irmãos e sobrinhos sucessores da cora espanhola, ela e o marido tornam-se legítimos reis, iniciando-se uma disputa pelo poder que envolveu o esposo, o pai e o filho Carlos. Iniciado pelo ciúmes doentio que tinha de Filipe, que possuía muitas amantes, pelas crises e até agressões às mulheres, torna-se uma personagem nominada de "a louca". Este argumento é usado pelos então interessados no trono para aprisioná-la, usurpando seu cargo de rainha. Joana ainda luta e resiste às traições sofridas, envolvendo família, Igreja. Torna-se prisioneira por mais de 40 anos em Tordesilhas, falecendo com mais de 70 anos.
A biografia de Joana é fascinante, porém triste. Percebemos que pouco a escritora foge aos fatos biográficos da rainha de Castela, tornando o relato mais interessante a ser apreciado.

Na Natureza Selvagem - Jon Krakauer

Fonte da resenha: Skoob
aO corpo em decomposição de um jovem é encontrado no Alasca. A polícia descobre que se trata de um rapaz de família rica do Leste americano que largou tudo, se internou sozinho na aridez gelada e morreu de inanição.
Quem era o garoto? Por que foi para o Alasca? Por que morreu? Para responder a essas e outras perguntas, Jon Krakauer refaz a trajetória de Chris McCandless, revelando a América dos que vivem à margem, pegando carona ou circulando em carros velhos, vivendo em acampamentos e cidades-fantasmas. Mergulha no mundo da cidadezinha rural, onde homens rudes bebem e conversam sobre o tempo e a colheita. Compara a história do jovem com a de outros aventureiros solitários que tiveram fim trágico.
O resultado é uma narrativa envolvente, por vezes amarga, em que os sonhos da juventude se transformam em pesadelo.

Menino de ouro - Abigail Tarttelin

aAlguém pode não ser uma aberração da natureza, mas basta ter características incomuns dos demais, um nascimento que trouxe consigo uma marca indelével de ser diferente, que uma carga de emoções diferentes, personalidade diversa, medos, necessidade de agradar e ser bom em quase tudo o força, como compensação de uma "falha", mesmo que poucos saibam disso.
Assim é Max. Um garoto bonito, inteligente, popular, querido pelas garotas, mas traz consigo um grande segredo. Mas silêncio! Não se fala sobre isso em casa, não se toca no assunto, assim fica o filho perfeito em sua vida perfeito, na família perfeita... até que o dia o destino desafia a encarar de frente sua "carga", decidir questões que, dentro de seus dezessete anos de idade, tornam-se pesados.
Um livro bem interessante, recomendo.
Trechos:
"Agora percebo que estava tentando com todas as minhas forças. Estou começando a entender que tentar ser perfeito foi o objetivo da minha vida. Da nossa vida. Tentar ser essa pessoa sorridente e sem defeitos, nessa família amorosa e feliz que se encaixa perfeitamente nessa cidadezinha bonita e inofensiva. O que tinha de tão ruim naquele objetivo, afinal? Apenas que eu não podia realizá-lo. Que eu decepcionei todo mundo. Fiquei tão mal por causa disso, tão deprimido pensando sobre todas as bolas que estava tentando manter no ar nesse malabarismo e que deixei cair, e agora as engrenagens giram no sentido da apatia total sobre tudo, tudo, e tudo o que consigo pensar é que sou um ser humano vazio. Sou uma marionete. Eu sou o culpado"
"Você tem que se achar especial de verdade para pensar que pode desempenhar um papel na definição da identidade de um grupo de pessoas que não conhece, de seres humanos com um monte de merda complicada acontecendo em seu corpo. Eles ainda não sabem o que certas partes do nosso cérebro podem fazer; eles ainda não sabem como curar um simples resfriado; e afirmam saber sobre sexualidade, sobre sexo. Bem, você não é um homem só porque gosta de futebol, e não é uma mulher só porque se sente atraída por homens, e não deixa de ser mulher porque gosta de ser a única que mete, e não deixa de ser um cara só porque gosta de receber ou porque às vezes chora em filmes bobos