segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Minha querida Sputnik - Haruki Murakami

lTriângulo amoroso entre o personagem principal-narrador, Sumire e Miu. O primeiro livro do autor que "saboreio", percebe-se o uso figurativo de passagens como o ver-se em outro corpo que não é seu e ausentar-se de si, como transportado a uma outra dimensão, isso tanto nos acontecimentos que mudaram a trajetória de vida de Miu, no desaparecimento de Sumire e na experiência pessoal do personagem-narrador numa montanha grega. Em paralelo, a sua namorada casada, seu filho Cenoura e acontecimentos que, por si, faz- nos pensar no sentido entre eles. Pretendo ler mais Murakami para que possa definir se gosto do autor. Por esse primeiro livro, nada me impressionou nem apaixonou. Agora vou à cata de mais resenhas para perceber opiniões alheias a esse livro intrigante, mas não entrou na lista dos que recomendaria.
Pequenos trechos:
"(...) se me per­mitem uma gen­er­al­iza­ção medíocre, as coisas in­úteis tam­bém não têm um lu­gar neste mun­do longe de ser per­feito? Re­tire tu­do que é fútil de uma vi­da im­per­fei­ta e ela perderá, até mes­mo, sua im­per­feição."
"Sumire era uma român­ti­ca in­curáv­el, afer­ra­da a seus hábitos — um pouco in­ocente, para citar al­go sim­páti­co. Se começa­va a falar, não par­ava mais, porém se es­ta­va com al­guém de quem não gosta­va — em out­ras palavras, a maio­ria das pes­soas no mun­do —, mal abria a bo­ca. Fu­ma­va de­mais, e podíamos ter sem­pre certeza de que perde­ria o bil­hete ao pe­gar o trem. As vezes, fi­ca­va tão ab­sorta em seus próprios pen­sa­men­tos que se es­que­cia de com­er, e era tão ma­gra quan­to um dess­es ór­fãos de guer­ra em filme ital­iano anti­go — co­mo uma vara com ol­hos."
"Quan­do a min­ha ju­ven­tude es­capuliu de mim? Pen­sei, de re­pente. Es­ta­va acaba­do, não es­ta­va? Ain­da on­tem eu es­ta­va crescen­do. Huey Lewis and the News tin­ham al­gu­mas músi­cas de suces­so na época. Não fazia muito tem­po. E ago­ra, ali es­ta­va eu, den­tro de um cir­cuito fecha­do, gi­ran­do min­has ro­das. Saben­do que não chegaria a lu­gar nen­hum, mas gi­ran­do, as­sim mes­mo. Eu tin­ha de. Tin­ha de man­tê-​las gi­ran­do ou não con­seguiria so­bre­viv­er."
"Eu con­tin­ua­va deste la­do, aqui. Mas o out­ro eu, talvez metade de mim, havia pas­sa­do para o out­ro la­do. Levan­do o meu ca­be­lo pre­to, o meu de­se­jo sex­ual, a min­ha men­stru­ação, a min­ha ovu­lação, talvez, até mes­mo, a min­ha von­tade de viv­er. A metade que fi­cou é a pes­soa que você es­tá ven­do. Sen­ti-​me dessa maneira por muito tem­po — que em uma ro­da-​gi­gante, em uma pe­que­na cidade suíça, por uma razão que não sei ex­plicar, fui di­vi­di­da em duas para sem­pre. Talvez ten­ha si­do uma es­pé­cie de transação. Não que al­gu­ma coisa ten­ha si­do rouba­da de mim, porque ain­da ex­iste no out­ro la­do. Ape­nas um úni­co es­pel­ho nos sep­ara do out­ro la­do. Mas não con­si­go atrav­es­sar a fron­teira desse la­do do es­pel­ho. Nun­ca."