Triângulo amoroso entre o personagem principal-narrador, Sumire e Miu. O primeiro livro do autor que "saboreio", percebe-se o uso figurativo de passagens como o ver-se em outro corpo que não é seu e ausentar-se de si, como transportado a uma outra dimensão, isso tanto nos acontecimentos que mudaram a trajetória de vida de Miu, no desaparecimento de Sumire e na experiência pessoal do personagem-narrador numa montanha grega. Em paralelo, a sua namorada casada, seu filho Cenoura e acontecimentos que, por si, faz- nos pensar no sentido entre eles. Pretendo ler mais Murakami para que possa definir se gosto do autor. Por esse primeiro livro, nada me impressionou nem apaixonou. Agora vou à cata de mais resenhas para perceber opiniões alheias a esse livro intrigante, mas não entrou na lista dos que recomendaria.
Pequenos trechos:
"(...) se me permitem uma generalização medíocre, as coisas inúteis também não têm um lugar neste mundo longe de ser perfeito? Retire tudo que é fútil de uma vida imperfeita e ela perderá, até mesmo, sua imperfeição."
"Sumire era uma romântica incurável, aferrada a seus hábitos — um pouco inocente, para citar algo simpático. Se começava a falar, não parava mais, porém se estava com alguém de quem não gostava — em outras palavras, a maioria das pessoas no mundo —, mal abria a boca. Fumava demais, e podíamos ter sempre certeza de que perderia o bilhete ao pegar o trem. As vezes, ficava tão absorta em seus próprios pensamentos que se esquecia de comer, e era tão magra quanto um desses órfãos de guerra em filme italiano antigo — como uma vara com olhos."
"Quando a minha juventude escapuliu de mim? Pensei, de repente. Estava acabado, não estava? Ainda ontem eu estava crescendo. Huey Lewis and the News tinham algumas músicas de sucesso na época. Não fazia muito tempo. E agora, ali estava eu, dentro de um circuito fechado, girando minhas rodas. Sabendo que não chegaria a lugar nenhum, mas girando, assim mesmo. Eu tinha de. Tinha de mantê-las girando ou não conseguiria sobreviver."
"Eu continuava deste lado, aqui. Mas o outro eu, talvez metade de mim, havia passado para o outro lado. Levando o meu cabelo preto, o meu desejo sexual, a minha menstruação, a minha ovulação, talvez, até mesmo, a minha vontade de viver. A metade que ficou é a pessoa que você está vendo. Senti-me dessa maneira por muito tempo — que em uma roda-gigante, em uma pequena cidade suíça, por uma razão que não sei explicar, fui dividida em duas para sempre. Talvez tenha sido uma espécie de transação. Não que alguma coisa tenha sido roubada de mim, porque ainda existe no outro lado. Apenas um único espelho nos separa do outro lado. Mas não consigo atravessar a fronteira desse lado do espelho. Nunca."