segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Mulheres - Charles Bukowski

Mais um livro de Bukowski onde explora seu alter ego no personagem de Henry Chinaski, escritor, ex-funcionário da agência de correios, alcoolatra, que sobrevive de leituras de seus poemas e escritos e venda de livros. Nesse romance, o universo masculino tem toda sua revelação: os homens são institivos, onde o sexo é um ato banal, carnal, casual. Depois de um "jejum" de quatro anos, o personagem, ao conhecer Lydia, desperta novamente sua sexualidade e, a partir daí, vê-se no livro um desfilar de nomes femininos difícil de memorizar, cada uma com sua peculiaridade, mas mulheres e mais mulheres que vêm e vão na vida do personagem. Não se trata de um romance com início, meio, fim. Ao ler Bukowski, não se deve esperar muito convencionalismo. Lê-se o livro e não consegue parar, apesar do repetição bebida-mulheres-sexo-drogas constante nas páginas.
Sou apaixonada pelo escritor, mesmo que às vezes, lendo um novo romance dele, tenho a impressão que já li aquele mesmo livro antes.

Passagens:
"«Hepburn, roubaram a merda do carro.»

«Oh, Hank, é impossível!»
«Foi-se. Estava aqui.» Apontei. «Agora foi-se.»
«O que fazemos, Hank?»
«Vamos apanhar um táxi. Sinto-me bastante mal.»
«Porque é que as pessoas fazem isto?» «Têm de o fazer. É a maneira de se sentirem livres.»" "Eu tinha um ditado: «Leva a minha mulher, mas deixa o meu carro em paz». Não mataria nunca um homem que me levasse a mulher, mas talvez matasse o homem que me levasse o carro. "
"Há um problema com os escritores. Se o que ele escreve se vende bastante, muitos exemplares, ele pensa que é um gênio. Se o que ele escreve se vende medianamente, ele diz-se genial. Se o que ele escreve é publicado mas se vende mal, ele diz-se genial. Se o que ele escreve não é publicado e não tem dinheiro suficiente para publicar ele próprio, então diz que é mesmo genial. A verdade, contudo, é que há muito pouco gênio. E quase inexistente, invisível. Mas podemos ter a certeza de que os piores escritores têm uma confiança inabalável neles próprios. Em todo o caso, os escritores são uma raça a evitar, eu tento evitá-los, mas é quase impossível. Eles têm esperança numa espécie de fraternidade, numa espécie de conivência. Nenhum deles tem a ver com a escrita, nenhum deles é útil frente a uma máquina de escrever. "
"É este o problema com a bebida, pensei, enquanto me servia dum copo. Se acontece algo de mau, bebe-se para esquecer; se acontece algo de bom, bebe-se para celebrar, e se nada acontece, bebe-se para que aconteça qualquer coisa. "
"Nada estava bem. As pessoas agarravam-se cegamente à primeira coisa que lhes aparecesse: comunismo, orgias, andar de bicicleta, erva, o catolicismo, halteres, viagens, o recolhimento, a comida vegetariana, a índia, pintura, beber, andar por aí, iogurtes, congelados, Beethoven, Bach, Buda, Cristo, haxixe, sumo de cenoura, suicídio, roupas por medida, viajar de avião, Nova Iorque, e de repente tudo desaparece. As pessoas tinham de encontrar coisas para fazer enquanto esperavam pela morte. Acho que era bom podermos escolher."
"Nunca gostei muito de vestir bem. Odiava lojas de roupas, os empregados julgavam-se superiores, parecia que conheciam o segredo da vida, tinham uma confiança que eu não tinha. Os meus sapatos estavam sempre num estado lamentável, velhos; também odiava sapatarias. Nunca comprava nada antes de as coisas ficarem inutilizáveis, incluindo os automóveis. Não era uma questão de economia, eu não suportava ser um comprador com necessidades de ter um vendedor bem arranjado, distante e superior. E depois tudo isso levava tempo, tempo em que podia estar deitado ou a beber."