terça-feira, 29 de setembro de 2015

A Segunda Sombra - Nicci French

aJoanna Vine, menina de 5 anos some quando voltava da escola com a irmã. 22 anos a cena se repete com um menino da mesma idade, Matthew Farraday.  Entre eles, a psiquiatra Frieda Klein que se torna personagem principal. Alan Dekker, um homem que se sente fora de si e tem ataques de pânico a procura, passando antes pelo Dr Reuben McGill. Assim como o psiquiatra Reuben, Josef, o pedreiro e  Jake, o estagiário, entre outros, são personagens na trama que se percebe não há a razão de lá estarem, são vagos, desnecessários. O motivo que leva a psiquiatra a procurar o policial Karlsson, responsável pela investigação, para relatar sua suspeita de sequestro é válida, porém o que encaminha a suspeita para um terceiro torna-se completamente sem lógica, carecendo, para isso, mais um personagem aleatório, um psicólogo  que estuda gêmeos idênticos, porém seu acréscimo se dá após a suspeita criada pela médica. Um livro que não tem final surpreendente, falhas de lógica e acréscimos desnecessários de figuras criadas e passagens. Porém vale a pena pelo conteúdo psicológico.
Passagens:
"De repente — ou seria gradualmente? — ele havia começado a achar seus pacientes tediosos. Essa era a grande diferença entre a psiquiatria e as outras formas de medicina. Nessas últimas, o paciente se apresenta e o médico examina seu braço, pede um raio-X do tórax ou examina embaixo da língua. Mas um terapeuta precisa ouvir os sintomas repetidas vezes, de forma contínua, hora após hora. Nos últimos anos, não estava sendo assim. Reuben tinha a sensação de estar ouvindo uma forma particularmente pura de literatura, uma versão oral, que precisava de interpretação, decodificação. Com o tempo, passou a achar que se tratava de um tipo horrível de literatura, cheia de clichês, repetitiva e previsível. Depois, começou a acreditar que não era nada disso, mas apenas um palavrório desinformado e sem reflexão, e que se deixava fluir por ele como um rio, como o trânsito, como ficar em uma ponte sobre uma estrada e assistir a carros e caminhões passando por baixo, pessoas sobre as quais você não sabe nada e com as quais não se importa. Elas falavam, às vezes choravam, e ele pensava em outras coisas e esperava pelo cigarro que viria exatamente um minuto após o término da sessão."
"Você não acreditaria até onde cheguei. Não imagina a merda que passa pela mente humana, e eu andei no meio disso, enterrado até o pescoço. Homens me contaram coisas sobre crianças e mulheres me contaram coisas sobre seus pais e tios, e nunca entendi por que eles não saíam da sala e estouravam seus malditos miolos. Eu achava que se os acompanhasse na jornada, se mostrasse a eles que não estavam sozinhos, que se pudessem compartilhar aquilo, talvez superassem os problemas e fossem capazes de recomeçar suas vidas. E sabe de uma coisa? Depois de trinta anos disso, não aguentei."
"Era mesmo tão importante falar sobre as coisas? Falar sobre elas seria apenas mais um modo de se envolver ainda mais com os pacientes, quando na verdade o que deveriam fazer era ajudá-los a se sentir melhor? "
"As pessoas falam que nosso cérebro é como um computador. Se fosse verdade, o que não é, o computador veio ao mundo com muitos de seus softwares pré-instalados. Sabe, como uma tartaruga que passa a vida toda no mar. Ela não aprende observando a mãe como ir até a praia, botar seus ovos e enterrá-los. Certos neurônios simplesmente começam a ser acionados de formas que não entendemos, e ela apenas sabe o que deve fazer. O que meu estudo com gêmeos mostrou é que muito do que parece reação ao ambiente, tomada de decisões usando o livre-arbítrio, é apenas a execução de certos padrões com os quais o sujeito nasceu."