O tema da infidelidade é central na novela de Tolstoi. Os ciúmes de um marido, Pozdnishev, que culmina em assassínio da esposa. No cenário, vemos quase um tratado contra o sexo, a queda de um sonho que seria o casamento, amor, ódio, idealização do objeto (pessoa) amada, a sedução, o polêmico lado dos direitos femininos... e o ciúme. No personagem, sentimento despertado no exato momento de "lucidez" em que a esposa e o suposto amante executavam a Sonata a Kreutzer de Beethoven: a melodia perfeita para o cenário magnífico construído pelo autor russo. A forma com que é descrita é tão perfeita que nos sentimos na pele no marido que se julga traído, indo de encontro aos amantes.
Revoltemo-nos contra os pensamentos machistas e antissexistas de Tolstoi, porém não deixemos de lê-lo - o postfácio é mais uma revolta à parte.
Maravilhoso! Recomendo.
Revoltemo-nos contra os pensamentos machistas e antissexistas de Tolstoi, porém não deixemos de lê-lo - o postfácio é mais uma revolta à parte.
Maravilhoso! Recomendo.
"As mulheres sabem perfeitamente que o amor, mesmo o mais elevado, o mais, poético — como nós dizemos — depende mais dos dotes físicos do que dos méritos. Perturba mais uma cabeça bem penteada, um vestido de bom corte, modelando bem as formas do que uma frase reveladora de excelsas qualidades morais. Pergunte a uma mulher experimentada qual é preferível, passar por mentirosa ou aparecer mal arranjada ao homem que pretende cativar. Ela preferirá a primeira alternativa."
"Não há ninguém tão mau que não encontre outro pior. E este pensamento é um manancial de prazer e de orgulho. Era este o meu caso. Não casava por dinheiro, como sucedia à maior parte dos meus amigos. Eu era rico, ela era pobre. E outra coisa me envaidecia. Os outros casavam, mas com a intenção de continuarem a viver na poligamia, como antes do casamento. Eu estava absolutamente resolvido a manter-me em monogamia, depois de casado. Era um miserável mas julgava-me um anjo."
"A lua-de-mel, como se pratica, é uma coisa terrível, abjecta, insuportável de tédio e cansaço. É, mais ou menos, o que acontece quando se principia a fumar; vontade de vomitar, náuseas, e vai-se engolindo a saliva para fingir que se tem um grande prazer. O cigarro, como o casamento, só provoca prazer depois do hábito, quer dizer, depois da adaptação dos casados."
"— Para que perpetuar o gênero humano? Para quê?
— Para quê?... Sem isso deixaríamos de existir.
— E para quê existir?
— Para quê?! Para vivermos...
— Mas viver para quê? Se não se tem um fim na vida, se a vida nos foi dada por si mesma não há razão para vivermos. Se isto é assim os Schopenhauer, ou os Hartman e todos os budistas têm razão. Se há um fim, desde que é atingido, a vida deve cessar. É esta a conclusão a que chegamos, disse ele com manifesta emoção (dava muita importância ao seu pensamento). Se o fim da vida é o bem, o amor, como você o entende; se o fim da humanidade é o que dizem as profecias, que todos os homens se unirão pelo amor, e que hão-de forjar-se foices com os ferros das lanças; o que se opõe à realização desse fim? As paixões. E de todas as paixões, a mais forte, a mais pérfida, a mais obstinada é a paixão da carne. Por consequência, se suprimirem as paixões, e principalmente a maior de todas, realizar-se-á a profecia; os homens unir-se-ão, o fim da humanidade será atingido e, portanto, não haverá razão para existirmos. Mas enquanto dura a humanidade ela tem de realizar o seu ideal que não é de maneira nenhuma o ideal dos coelhos nem dos porcos que é o de se reproduzirem o mais depressa possível, nem o dos macacos ou dos parisienses que é tirarem o máximo rendimento dos prazeres sexuais. Mas sim o ideal do bem que se atinge pela continência e pela pureza. É para aí que tendem os homens e sempre tenderão."
— Para quê?... Sem isso deixaríamos de existir.
— E para quê existir?
— Para quê?! Para vivermos...
— Mas viver para quê? Se não se tem um fim na vida, se a vida nos foi dada por si mesma não há razão para vivermos. Se isto é assim os Schopenhauer, ou os Hartman e todos os budistas têm razão. Se há um fim, desde que é atingido, a vida deve cessar. É esta a conclusão a que chegamos, disse ele com manifesta emoção (dava muita importância ao seu pensamento). Se o fim da vida é o bem, o amor, como você o entende; se o fim da humanidade é o que dizem as profecias, que todos os homens se unirão pelo amor, e que hão-de forjar-se foices com os ferros das lanças; o que se opõe à realização desse fim? As paixões. E de todas as paixões, a mais forte, a mais pérfida, a mais obstinada é a paixão da carne. Por consequência, se suprimirem as paixões, e principalmente a maior de todas, realizar-se-á a profecia; os homens unir-se-ão, o fim da humanidade será atingido e, portanto, não haverá razão para existirmos. Mas enquanto dura a humanidade ela tem de realizar o seu ideal que não é de maneira nenhuma o ideal dos coelhos nem dos porcos que é o de se reproduzirem o mais depressa possível, nem o dos macacos ou dos parisienses que é tirarem o máximo rendimento dos prazeres sexuais. Mas sim o ideal do bem que se atinge pela continência e pela pureza. É para aí que tendem os homens e sempre tenderão."
"A galinha não receia o que pode acontecer aos pintos, porque ignora as doenças que os podem matar, desconhece os meios pêlos quais os homens estão convencidos de que se preservam da doença e da morte. Ela faz pêlos pintos o que é natural e agradável fazer; os pintos são para a mãe um motivo de alegria. Se um pinto cai doente os seus cuidados estão determinados: aquece-os, alimenta-os. Fazendo isto, ela sabe que faz tudo o que é necessário. Se um pinto morre não lhe interessa saber qual a razão por que morreu, solta alguns cacarejes e continua depois a sua vida de galinha. "
"(...) O amor e o ódio eram manifestações diferentes do mesmo sentimento animal. Seria horrível compreender a situação em que nos encontrávamos, mas, nem sequer a víamos. E ao mesmo tempo a salvação e o castigo do homem."