Joman é vítima e beneficiário de circunstâncias da vida. Antes mesmo de nascer já estavam plantados os primeiros motivos que o levariam a se tornar tímido. A tolerância do pai, um imigrante português, e a repressão excessiva da mãe, uma brasileira, criaram um ambiente familiar ambíguo que reprimia sua natureza. Como resultado de sua timidez experimentou muitos sofrimentos ao longo da infância, adolescência e na começo da vida adulta. Depois de se envolver no negócio de diamantes, Joman consegue atingir uma relativa estabilidade na vida familiar e profissional. No entanto, o aparecimento súbito de uma doença fatal ameaça mudar tudo. Em seu último ano de vida, ele decide finalmente superar sua timidez e saborear o gosto da liberdade real. Abrindo-se para a vida, encara inúmeros desafios, passa perto da morte e até por alguns momentos fortuitos, como o achado de um grande diamante. Outros eventos inesperados dão à vida de Joman um sentido completamente novo e contribuem para uma profunda transformação pessoal. Prepare-se para emoções o tempo todo. O autor é um psiquiatra.
Fonte: Skoob
Fonte: Skoob
Passagens:
"Uma profunda melancolia o invade. Vai para a margem do rio, senta-se num barranco, e o espelho de água inspira-lhe uma tétrica fantasia. Olha aquela vastidão de água e tem ímpeto de caminhar rio adentro, até não ter pé. Seguem-se o silêncio e a paz, que duram pouco tempo na sua imaginação, ao lembrar-se do desespero que sentiu quando estava se afogando e de como foi abençoada aquela mão amiga do Neneco, que chegou para puxá-lo. Volta para casa tão abatido como saiu e ainda confuso com a vontade que teve de pôr fim à sua vida. “Como fui pensar essa coisa? Morrer é ruim demais!”, diz para si mesmo. “Mas pra que serve a vida? Era melhor eu ter nascido uma minhoca, que não pensa, não sente essas coisa… Viver também é muito ruim""
" “Como é bom ficar livre de fantasmas!” Aliviado completa: “E se eu ficar louco, não tem importância. Nada é pior do que viver prisioneiro”"
"Quando o carcereiro se afasta, o estudante indaga-lhe:
– Você é masoquista? O que é isto?
– A pessoa que gosta de sofrer, que sente prazer em sofrer.
– Moço – volta Joman –, você não sabe o que é sofrer. Não sofrer uma hora, duas, mas sofrer a vida inteira. Eu sei o que é isso."
– Você é masoquista? O que é isto?
– A pessoa que gosta de sofrer, que sente prazer em sofrer.
– Moço – volta Joman –, você não sabe o que é sofrer. Não sofrer uma hora, duas, mas sofrer a vida inteira. Eu sei o que é isso."
"No caminho para casa ele se recorda do período daquela paixão. Percebe que ela acabou definitivamente, embora não consiga saber quando. Contudo, compreende que precisou dela, precisou alimentar-se daqueles sonhos para sobreviver. E chega a uma conclusão: “Foi melhor o namoro não ter acontecido, porque pude imaginar o que quis. Se tivesse acontecido, não tinha sido tão bacana"
" - A não ser que ele tenha uma ação desconhecida. É um remédio novo. Trouxemos do exterior, onde estivemos num congresso médico. Mas é indicado só para certos tipos de pressão alta.
– Que remédio que é? – continua Joman.
– É um betabloqueador…
– Beta o quê?
O médico repete, e continua:
– Ele bloqueia certas terminações nervosas e faz abaixar alguns tipos de pressão arterial elevada. O nome do princípio ativo é propranolol.
– Um dos senhores disse que abaixou a dose? – volta Joman.
– Eu disse – responde o mesmo médico. – As duas primeiras doses deram um total de 80 miligramas, 40 miligramas em cada tomada, com intervalo de doze horas. Depois baixamos para 20 miligramas em cada porque a pressão já tinha normalizado.
– Será que foi isso? – indaga, pensativo, o médico mais velho."
– Que remédio que é? – continua Joman.
– É um betabloqueador…
– Beta o quê?
O médico repete, e continua:
– Ele bloqueia certas terminações nervosas e faz abaixar alguns tipos de pressão arterial elevada. O nome do princípio ativo é propranolol.
– Um dos senhores disse que abaixou a dose? – volta Joman.
– Eu disse – responde o mesmo médico. – As duas primeiras doses deram um total de 80 miligramas, 40 miligramas em cada tomada, com intervalo de doze horas. Depois baixamos para 20 miligramas em cada porque a pressão já tinha normalizado.
– Será que foi isso? – indaga, pensativo, o médico mais velho."
"(...) parece incrível que Joman, em menos de um mês, volte a sentir o desassossego de espírito, mas é o que acontece. “Além de não me sentir feliz, fica essa coisa ruim, essa gastura o tempo todo”, lamenta-se. Por mais que procure, não encontra o que falta. Medo ele já não tem nenhum. Fala com qualquer pessoa, fala em grupos, é desinibido. Tem grande confiança em si mesmo. Está econômica e financeiramente bem. O relacionamento em casa é ótimo. Percebe que não se sente em dívida com quem quer que seja. É difícil encontrar um problema que justifique tal estado, esse mal indefinido que se expressa em matizes diferentes no transcorrer do tempo."