
Personagens fortes, que emocionam, conquistam. Finda-se a leitura com um suspiro de que terminou um excelente livro. E pretendo ler outros do mesmo autor. A forma de escrita, a construção em retalhos da trama, a sensibilidade com que constrói desde o Mestre Severino até o padre Dourado... Empolgante!
Trechos:
"Para ele, em verdade, a família era uma dinastia de varões, e todos sobre as águas, indômitos, queimados de sol, rompendo as ondas com a quilha de seus barcos. Se pudesse retroceder no tempo, sabia que ia encontrar outros barqueiros como o pai, como o avô, como o bisavô, fiéis ao mar até a morte, numa interminável genealogia de nautas invencíveis."
"Antigamente moça não mostrava o pé. Hoje, mostra o pé, a perna, a coxa, tudo! Tudo, Mestre Severino. Quando senta, dobra a perna, o coxão aparece. Mesmo na igreja, diante de Nosso Senhor Jesus Cristo. Na hora do sermão, só eu sei a força que faço para não disparatar. Tudo mal sentado. Mesmo as velhas, que têm o dever de dar o bom exemplo. Não sei se o senhor já sabe que ultimamente eu não tenho confessado ninguém.
Pois é verdade. Só na hora da morte, para ministrar a extrema-unção. Fora daí, não. Não agüento mais com as safadezas que todo mundo vem me cochichar no pé do ouvido. Basta. Não suporto mais. A vontade que tenho agora é ficar dentro do confessionário com um chicote rabo-de-tatu, para aplicar a penitência, eu mesmo, na bunda de muita velha. Para mim, chega! Assim também é demais! Quanta barbaridade! Quanta falta de vergonha! Só pecado."
"A Lourença? É mesmo. Agora é que estou vendo direito. Como você está velha! Mais do que eu. O tempo judiou com você, criatura. Foi o tempo ou foi Mestre Severino? Um dos dois. A verdade é que você está mesmo acabada. Quem te viu e quem te vê!"
"Chegara a pensar em fundear o barco mais adiante, para deixá-lo ao abrigo da muralha do cais, na hipótese de uma rajada mais forte na hora do temporal. Agora, em vez de proteger-se da tormenta, queria sair ao seu encontro. Se não tinha mais nada que esperar da vida, para que viver mais? Trazia a morte consigo, ali no peito, já havia decidido entregar-se. Mais dias, menos dias, estaria diante de Deus. O melhor que fazia era morrer logo, e morrer no mar, arrastando na morte o neto, que não queria ser barqueiro."
Pois é verdade. Só na hora da morte, para ministrar a extrema-unção. Fora daí, não. Não agüento mais com as safadezas que todo mundo vem me cochichar no pé do ouvido. Basta. Não suporto mais. A vontade que tenho agora é ficar dentro do confessionário com um chicote rabo-de-tatu, para aplicar a penitência, eu mesmo, na bunda de muita velha. Para mim, chega! Assim também é demais! Quanta barbaridade! Quanta falta de vergonha! Só pecado."
"A Lourença? É mesmo. Agora é que estou vendo direito. Como você está velha! Mais do que eu. O tempo judiou com você, criatura. Foi o tempo ou foi Mestre Severino? Um dos dois. A verdade é que você está mesmo acabada. Quem te viu e quem te vê!"
"Chegara a pensar em fundear o barco mais adiante, para deixá-lo ao abrigo da muralha do cais, na hipótese de uma rajada mais forte na hora do temporal. Agora, em vez de proteger-se da tormenta, queria sair ao seu encontro. Se não tinha mais nada que esperar da vida, para que viver mais? Trazia a morte consigo, ali no peito, já havia decidido entregar-se. Mais dias, menos dias, estaria diante de Deus. O melhor que fazia era morrer logo, e morrer no mar, arrastando na morte o neto, que não queria ser barqueiro."