Nathan Zuckerman, sexagenário escritor, narra a estóriado seu vizinho e amigo Coleman Silk, professor da universidade de Athena, oeste de Massachusetts, seus segredos, vida e amores. Aposentado, Silk pede que o amigo defenda-o por meio de um livro da acusação de ser misogenia e racismo, quando usou um termo em sala de aula e foi interpretado erroneamente por todos. Revoltado, apenas aplaca a frustração quando conhece Faunia Farley, semi-analfabeta, fugida de casa desde os 14 anos por conta dos abusos do padrasto, foi casada com o ex-combatente e neurótico Less Farney, dois filhos mortos e trabalhava na limpeza da universidade, quarenta anos mais jovem que ele. Zuckerman analisa e investiga a vida de Silk desde sua infância, personalidade, filhos, o casamento com Iris, que o amigo afirma ter sido assassinada pelo julgamento sofrido por ele no meio acadêmico, "injustiçado, caluniado e prejudicado, mergulhando-o num abismo de misantropia digno de Swift".
O livro relata os traumas de ex-combatentes que foram ao Vietnã pela presença do personagem Less Farney; a solidão de uma intelectual que não encontra abrigo no lugar-comum masculino, igual e repetitivo, na pele da chefe de departamento Delphine Roux; o racismo sofrido pelo personagem Coleman, negro, mas com traços brancos... e muitos outros temas, marcas da sociedade americana, representada pelo autor em uma trilogia a qual faz parte o exemplar A Marca Humana, sendo os outros títulos A pastoral americana (Companhia das Letras, 1998) e Casei com um comunista (Companhia das Letras, 2000).
Extenso, de um detalhamento marcante, às vezes excessivo. Em algumas passagens torna-se cansativo, mas a continuidade tão bem tramada que não tira o encantamento da obra.
O livro relata os traumas de ex-combatentes que foram ao Vietnã pela presença do personagem Less Farney; a solidão de uma intelectual que não encontra abrigo no lugar-comum masculino, igual e repetitivo, na pele da chefe de departamento Delphine Roux; o racismo sofrido pelo personagem Coleman, negro, mas com traços brancos... e muitos outros temas, marcas da sociedade americana, representada pelo autor em uma trilogia a qual faz parte o exemplar A Marca Humana, sendo os outros títulos A pastoral americana (Companhia das Letras, 1998) e Casei com um comunista (Companhia das Letras, 2000).
Extenso, de um detalhamento marcante, às vezes excessivo. Em algumas passagens torna-se cansativo, mas a continuidade tão bem tramada que não tira o encantamento da obra.
Recomendo. Boa leitura!
Trechos:
"Quer dizer que você vai abandonar a coisa toda, dizendo que desiste, abandonar todo esse trabalho, todo esse ódio. Pois bem, como é que você vai encher o vazio deixado pela indignação?"
"...quando me dei conta de minha impotência irreversível, dizendo a mim mesmo que tudo o que a operação fizera fora me obrigar a levar a cabo minha renúncia que eu já havia assumido voluntariamente. A cirurgia não fizera mais do que tornar definitiva uma decisão a que eu havia chegado por conta própria, sob a pressão de toda uma existência marcada por envolvimentos, quando gozava de uma potência integral, vigorosa e inquieta, quando a compulsão masculina de repetir o ato - repetir, repetir, repetir - ainda não fora atenuada por problemas fisiológicos"
"Como dizer 'não, isso não faz parte da vida' sabendo que não é verdade? A sexualidade, essa contaminação redentora que desidealiza a espécie humana e nos lembra constantemente de que não passamos de matéria"
"Para abrir mão da sociedade, abster-se de toda e qualquer distração, renunciar a qualquer ambição profissional, às ilusões da vida social, aos venenos culturais e ao fascínio da intimidade, para praticar uma reclusão rigorosa, como a dos religiosos que se isolam em cavernas ou celas ou cabanas no meio do mato, é preciso ser feito de uma matéria mais dura do que a minha. Eu havia conseguido ficar sozinho apenas cinco anos - cinco anos lendo e escrevendo na encosta do monte Madamaska, numa agradável cabana de dois cômodos localizada numa lagoa (...). Para viver na confusão do mundo com o mínimo de sofrimento, o segredo é conseguir fazer com que o maior número de pessoas possível embarque nas suas ilusões; para viver sozinho aqui na montanha, longe de todos os envolvimentos, todas as atrações e expectativas que nos perturbam a paz, longe, sobretudo, de nossa própria intensidade, o segredo é organizar o silêncio, pensar na plenitude da montanha como capital, encarar o silêncio como uma riqueza que está se multiplicando constantemente. O silêncio que nos cerca é a vantagem que escolhemos, e é só com ele que temos intimidade. O segredo é encontrar sustento nas (...) 'comunicações de uma mente solidária consigo mesma'. O segredo é encontrar sustento em pessoas como Hawthorne, na sabedoria dos mortos geniais"
"... a última coisa que eu queria voltar a ter, pensava eu, era a companhia constante de uma pessoa. A música que ouço após o jantar não tem o propósito de me aliviar do silêncio, porém representa uma espécie de concretização do próprio silêncio: ouvir música durante uma ou duas horas todas as noites não me priva do silêncio - a música é a própria realização do silêncio. (...) Tenho sessenta e cinco anos e estou fisicamente bem, trabalhando bastante - e estou sabendo das coisas. Tenho de estar sabendo."
"Nada dura, e no entanto nada passa, tampouco. E nada passa justamente porque nada dura."
"Após uma certa idade é melhor se deixar guiar pela moderação, se não pela resignação, ou até mesmo pela capitulação. Após uma certa idade, a gente deve viver sem ficar o tempo todo relembrando os ressentimentos do passado, nem provocando resistências no presente desafinando o coro do decoro reinante. Porém, abrir mão e desempenhar qualquer papel que não o que é atribuído pela sociedade, no seu caso o papel de um homem aposentado respeitável."