terça-feira, 29 de setembro de 2015

A Casa das Belas Adormecidas - Yasunari Kawabata

lEguchi é um senhor de 67 anos que descobre, através de um amigo também sexagenário, uma casa onde pode passar a noite ao lado de jovens, porém com a particularidade que elas estavam dopadas, adormecidas profundamente. Sentir o cheiro, as sensações e as lembranças que esses momentos suscitam em sua memória faz com que, mesmo na convicção de não voltar depois da primeira visita, retorna para mais noites ao lado das belas mulheres. De início admirado, logo tem pensamentos de poder, de usar as donzelas em seu sono profundo, bem como a vontade de experimentar a mesma droga dada às meninas, talvez uma morte bem vinda.
Um livro arrebatador, estupendo.
Trechos:
"Sentindo-se desperto por completo, o velho Eguchi achou que dificilmente conseguiria conciliar o sono. Não queria recordar outras mulheres além daquela que via pequenos arco-íris. Tampouco queria tocar na garota adormecida ou contemplar todos os recantos do seu corpo. Pôs-se de bruços e voltou a abrir o embrulho de papel da cabeceira. A mulher da casa dissera-lhe que era sonífero, mas de que tipo seria? O mesmo que ministrara à garota?"
"Eguchi, que ia lá pela terceira vez, compreendia que dormir calmamente com uma garota como aquela seria um consolo fugaz para quem persegue os prazeres da vida que já não tem mais. Haveria algum velho que desejasse em segredo dormir um sono eterno ao lado da garota adormecida? Parecia que no corpo jovem da menina havia algo de triste que suscitava a intenção da morte no coração de um velho. Não! Eguchi era um dos mais sensíveis entre os que freqüentavam o lugar, mas, certamente, a maioria deles procurava apenas sorver a juventude da garota adormecida ou se aproveitar da menina que não podia acordar."
"No entanto, o "perigo" significava que poderia vir a morrer durante o sono? Eguchi não passava de um idoso que levava a vida como qualquer outro; porém, como um ser humano comum, vez por outra caía em depressão devido ao vazio da solidão e ao desgosto do isolamento. Não seria aquela casa um local ideal para morrer? Atiçar a curiosidade das pessoas, receber críticas do mundo, não seria, pelo contrário, uma glória após a morte? Seria uma surpresa para os conhecidos. Não era possível calcular quanto desgosto causaria à família e aos parentes. Contudo, ser encontrado morto, espremido entre duas mulheres jovens como nessa noite, não significaria a realização de um sonho para um velho decrépito? Mas isso não aconteceria."