segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O Complexo de Portnoy - Philip Roth

Alexander Portnoy, personagem-narrador, advogado de Nova York, 33 anos, conversa (ou melhor, monologa) com seu psicanalista, o doutor Spielvogel. O livro segue uma trilha não-linear, onde as lembranças de Alex são expostas como vêm à memória. A infância, filho de pais judeus, a mãe possessiva, o pai constipado que o tem como razão para seu trabalho exaustivo como corretor de seguros, a irmã apática e sem presença. Como toda boa terapia, a mãe sempre é o centro da fala, e nela o paciente desaba todas as frustrações, medos, manias.
Seus sentimentos vão da tranquila e amorosa vida familiar à repulsa por ela e tudo que representou na sua formação, ou a expectativa que põem sobre seus ombros, único filho homem.
Sua maior culpa é a sexualidade exagerada, que se iniciou na adolescência e o seguiu até a vida adulta, o sexo sendo o centro de sua vida.
Não consegue se firmar em um relacionamento estável: ao encontrar uma mulher culta, ou que seja boa na intimidade, ou sensível, sempre descobre algo que o desagrada, voltando ao círculo de busca.
Obsceno, isso é fato, mas um livro hilário, divertido de se ler.

Trechos:
"Sucesso. Estou chorando. Não há uma boa razão para eu estar chorando, mas é que nesta casa todos procuram dar uma boa chorada pelo menos uma vez por dia. O senhor deve compreender bem estas coisas. Uma boa parte da comunidade humana se compõe de chantagistas e imagino que a sua clientela também não foge à regra. Pois o meu pai tem andado nessa do tumor desde que me conheço. E a razão por que lhe dói a cabeça todo o tempo se deve, é claro, ao fato de ele estar sempre com prisão de ventre — e a razão por que tem prisão de ventre se deve ao fato de que o seu trato intestinal está nas mãos da firma Ansiedade, Medo & Frustração."
"Mas o que ele tinha a oferecer, eu não queria — e o que eu queria ele não podia oferecer. Entretanto, o que há de extraordinário nisso? Por que ainda me faz sofrer tanto? Ainda a esta altura! Doutor, diga-me de que será melhor livrar-me: do ódio. . .ou do amor? Pois se ainda nem comecei a falar daquilo que relembro com prazer — com uma arrebatada, pungente sensação de perda! Todas aquelas recordações que de alguma forma parecem estar ligadas com o estado do tempo e a hora do dia, e que me surgem na mente com tal agudeza que, momentaneamente, deixo de estar no subway, no escritório, ou num jantar com uma garota bonita, para regressar à infância, junto deles. Recordações de praticamente nada, mas que, no entanto, parecem momentos de história tão cruciais para o meu ser como o instante da minha concepção"
"Olhe, estarei exagerando em pensar que seja praticamente um milagre que eu ainda ande por aí? O grau de histeria e de superstição! Os "olhe-aí" e os "tome-cuidado"! Você não deve fazer isto, não pode fazer aquilo, pare com isto! Não faça isto! Está infringindo uma lei importante! Que lei? De quem? Por essa amostra de sensatez humana, bem poderiam eles andar de placas de madeira nos lábios, anéis nas orelhas e se pintarem de azul!"
"Doutor, essa gente é incrível! Essa gente é inacreditável! Esses dois são os maiores produtores e acondicionadores de culpa de nosso tempo. Extraem-na de mim como gordura da galinha! "Telefone, Alex. Visite, Alex. Alex, mande notícias. Não saia sem nos avisar, por favor, não faça isso de novo. Na última vez que partiu, não nos avisou e seu pai já estava pronto para telefonar para a polícia."
"Imagine só: suponha que eu me decidisse e me casasse com A, com as suas bonitas tetas e assim por diante, o que sucederá quando aparecer B, que as tem ainda mais bonitas, ou pelo menos mais novas? Ou c, que sabe mexer o traseiro de alguma maneira especial que eu jamais houvesse visto, ou D, ou E, ou F? Estou tentando ser franco com o senhor, doutor, pois no que se refere a sexo, a imaginação dispara até z e ainda vai além!"
"Em outras palavras: será que eu pensava que a amava? Resposta: não. O que eu pensava (isto irá diverti-lo), o que eu pensava não era: Será que a amo? ou  mesmo: Poderia eu amá-la? e sim: Deveria amá-la?"

Philip Roth
Escritor norte-americano, Philip Milton Roth nasceu a 19 de Março de 1933, na cidade de Newark, no estado da Nova Jersey. Filho de um mediador de seguros de origem austro-húngara, tornou-se num grande entusiasta de baseball aos sete anos de idade. Descobriu a literatura tardiamente, aos dezoito.
Após ter concluído o ensino secundário, ingressou na Universidade de Rutgers mas, ao fim de um ano, transferiu-se para outra instituição, a Universidade de Bucknell. Interrompeu os seus estudos em 1955, ao alistar-se no exército mas, lesionando-se durante a recruta, acabou por ser desmobilizado. Decidiu pois retomar os seus estudos, trabalhando simultaneamente como professor para poder prover ao seu sustento, tendo-se licenciado em 1957, em Estudos Ingleses.
Inscreveu-se depois num seminário com o intuito de apresentar uma tese de doutoramento, e perdeu o entusiasmo, desistindo deste seu projecto em 1959. Preferindo dar início a um esforço literário, passou a colaborar com o periódico New Republic na qualidade de crítico de cinema, ao mesmo tempo que se debruçava na escrita do seu primeiro livro, que veio a ser publicado nesse mesmo ano, com o título Goodbye, Columbus (1959). A obra constituiu uma autêntica revelação, comprovada pela atribuição do prémio literário National Book Award. Mereceu também uma adaptação para o cinema pela mão do realizador Larry Peece.
Seguiram-se Letting Go (1962) e When She Was Good (1967), até que, em 1969, Philip Roth tornou a consolidar a sua posição como romancista através da publicação de Portnoy's Complaint (1969, O Complexo de Portnoy), obra que contava a história de um monomaníaco obcecado por sexo. O autor passou então a optar por fazer reaparecer muitas das suas personagens em diversas narrativas. Depois de The Breast (1972), romance que aludia à Metamorfose de Franz Kafka, David Kepesh, o protagonista que se via transformado num enorme seio, torna a figurar em The Professor Of Desire (1977) e em The Dying Animal (2001). Um outro exemplo de ressurgência é Nathan Zuckermann, presente em obras como My Life As A Man (1975), Zuckermann Unbound (1981), I Married A Communist (1998, Casei Com Um Comunista ) e The Human Stain (2000).
Tendo dado início a uma carreira docente em meados da década de 60, e que incluiu a sua passagem por instituições como as universidades de Princeton e Nova Iorque, Philip Roth encontrou muita da sua inspiração em incidentes e ambientes da vida acadêmica.
Em 1991 publicou um volume dedicado à história da sua própria família, Patrimony, trabalho que foi galardoado com o National Critics Circle Award no ano seguinte, uma entre as muitas honrarias concedidas ao autor.
Em 1997, Philip Roth ganhou Prémio Pulitzer com Pastoral Americana.
Em 1998 recebeu a Medalha Nacional de Artes da Casa Branca e em 2002 o mais alto galardão da Academia de Artes e Letras, a medalha de Ouro da Ficção, anteriormente atribuída a John dos Passos, William Faulkner e Saul Bellow, entre outros. Ganhou duas vezes o National Book Critics Award.
Em 2005, A Conspiração contra a América recebeu o prêmio da Sociedade de Historiadores Americanos pelo «excepcional romance histórico sobre um tema americano, relativo a 2003-2004», e foi considerado Melhor Livro do Ano por inúmeras publicações, entre elas: New York Times Book Review, San Francisco Chronicle, Boston Globe, Chicago Sun-Times, Los Angeles Times Book Review, Washington Post Book World, Time e Newsweek. No Reino Unido, Recebeu ainda o W.H. Smith Award para Melhor Livro do Ano.
Em 2011 recebe o Man Booker International Prize, prêmio que procura destacar a influência de um escritor no campo da literatura. Trata-se de um reconhecimento do trabalho pessoal, e não de uma obra sua em particular. No ano seguinte, recebeu o Prêmio Príncipe das Astúrias, a maior distinção de Espanha.[Fonte: Wook]