Um encontro casual. Adrian Herzog poderia não ter encontrado Martijn van Viliet num café em Sanint-Rémy certa manhã, seguiu a curiosidade e entrou na estória do personagem que do qual relata, contada em primeira pessoa, como um testemunho de convergência de duas vidas.
Van Viliet tinha como meta e grande amor, depois da morte da esposa Cécile, a filha Lea. Quando ainda com 8 anos, a menina, abatida e sem vida pela morte da mãe, mostrou-se impressionada pelo som de um violino tocado em uma estação de trem, ele viu aí a direção a tomar para devolver vitalidade à filha. Daí se inicia o encontro de Lea com a música e o desencontro com a sanidade, na infinita aflição desenvolvida pela ambição no encontro da música. Van Viliet também analisou cada traço de mudança em Lea, viveu e sofreu.
A própria vida torna-se secundária para o personagem narrador, frente à ditada vida do recém-chegado amigo. Percorrem lugares antes visitados por Van Viliet e revivem acontecimentos do passados. De si, a comparação com o seu casamento desfeito, a paixão não vivida pela enfermeira, o relacionamento frio e distante com a filha, o abandono da sua profissão de cirurgião conceituado. "Chegou o fim", como uma mesma partitura para as composições de cada um. A vida de outrem invade seus próprios limites, fazendo-o esquecer de seu próprio mundo. A saída encontrada pelo amigo por acaso também não seria a mesma que ele buscava, como fim do silêncio e do vazio?
A própria vida torna-se secundária para o personagem narrador, frente à ditada vida do recém-chegado amigo. Percorrem lugares antes visitados por Van Viliet e revivem acontecimentos do passados. De si, a comparação com o seu casamento desfeito, a paixão não vivida pela enfermeira, o relacionamento frio e distante com a filha, o abandono da sua profissão de cirurgião conceituado. "Chegou o fim", como uma mesma partitura para as composições de cada um. A vida de outrem invade seus próprios limites, fazendo-o esquecer de seu próprio mundo. A saída encontrada pelo amigo por acaso também não seria a mesma que ele buscava, como fim do silêncio e do vazio?
Um bom livro. Recomendo.
Trechos:
"(...) Me esqueci da minha própria vida; desde Loyola de Colón penso apenas na vida de Lea. Sem fazer a barba, fui de carro pelas ruas vazias até a estação. Devagar, desci a escada rolante de outrora, ainda inativa, e tentei imaginar como eu era antes de a música do violino passar a reger minha vida. Será possível saber como era antes, sabendo como ficou depois? Será realmente possível? Ou será que aquilo que recebemos, o que veio posteriormente, fica anestesiado pelo pensamento obstinado de que isso é o antes?"
"Os pais também sabiam que não havia sido suficiente. Uma mãe passava a mão pelo cabelo da filha, um pai colocava o braço sobre o ombro do filho. E então, de repente, ficou claro para mim que, quando os olhares dos outros recaem sobre nós, é sempre cruel, mesmo com boa vontade. Eles nos transformam em protagonistas. Não podemos mais ser nós mesmos, temos de ser para os outros, que nos afastam do que somos. E o pior: temos de fingir ser alguém determinado. Os outros esperam por isso. Embora não sejamos nada disso. Talvez não quiséssemos que ninguém determinado existisse para nos escondermos numa imprecisão benfazeja."
"Ao me levantar, não olhei para Lea nem para Marie. Não havia nada a explicar. Era uma fuga. Uma fuga da aflição dessas crianças, que tinham aprendido com alguém que era importante ir até lá e ficar à mercê dos olhares e dos ouvidos dos concorrentes e dos jurados. O mais velho tinha 20 anos; a mais nova, 16. JEUNESSE MUSICALE, a cidade estava repleta dessas letras, que pareciam belas e pacíficas, tinta dourada sobre medo represado, ambição sufocante e mãos úmidas. (...) Será que todos sentem isso, que um medo grande nunca se dissipa, apenas se esconde atrás de uma grande pilastra, para depois reaparecer com força total? O senhor sente o mesmo? E por que isso é diferente da alegria, da esperança e da felicidade?"
"(...) Lá naquele lugar, sobre os degraus, ela parecia estar à beira de um precipício. Cambaleava no tempo, ou melhor, não conhecia mais nenhum tempo, não havia mais nenhum tempo dentro dela — apenas o desejo de que as coisas com Marie voltassem a ser boas, com a mulher a quem ela deu o anel dourado de presente e a quem enviou os muitos cartões-postais de Roma, com a mulher que lhe fazia o sinal da cruz na testa antes de todas as apresentações.
E o pai não queria ser aquele a pisotear essa esperança e esse desejo, a quem ela odiaria depois disso."
E o pai não queria ser aquele a pisotear essa esperança e esse desejo, a quem ela odiaria depois disso."
"Era muito estranho. Achei que ia sentir um pouco de pânico, medo de ficar louco. Em vez disso, me senti bem. Não foi exatamente um sentimento de felicidade, mas um tipo de satisfação, e acho que era a sensação de me tornar semelhante a Lea, independentemente do quão louco isso possa soar. Ou talvez eu não devesse dizer tornar semelhante, mas corresponder. Sim, era isso. Era a sensação de responder, a partir da minha noção do caminho infinito de Lea que esmaecia, ao plano da irrealidade que se expandia sem parar dentro de minha filha. Isso era perigoso, e pude perceber. Afinal, isto existe: a contemplação dócil, resignada e, de alguma maneira, satisfeita de um precipício."