terça-feira, 29 de setembro de 2015

O Silêncio da Chuva - Luiz Alfredo Garcia-Roza

lRomance policial diferente de qualquer outro que já tenha lido. A trama traçada por Garcia-Roza é desenvolvida relatando os fatos acontecidos que envolvem um crime e, ao mesmo tempo, sob o ponto de vista da investigação policial, na pele do investigador Espinosa, que não chega a ser um Quincy Magoo sem a deficiência visual, mas nos faz entrar na mente investigativa com infinitas hipóteses para solucionar o crime (que tornam-se três crimes no decorrer da estória) todas longe dos fatos reais - revelados, como disse, em paralelo.
O livro se inicia com o suicídio de Ricardo Fonseca de Carvalho, interpretado como assassinato pela investigação, os detalhes descortinados a seguir envolvem Max, um assaltante desocupado; a secretária Rose e sua a mãe; a esposa do suicida, Bia Vasconcelos; Júlio, professor universitário; Rose, a namorada de Júlio, entre outros.
A narrativa é dada parte em segunda pessoa e outra na pele do Investigador Espinosa, primeira pessoa.
Recomento. Boa Leitura!
Trechos:
"Às oito horas da noite, a maior parte dos carros estacionados no segundo piso do edifício-garagem já havia saído quando o homem gordo, esbaforido, avisou ao funcionário responsável pelo andar que havia um morto no automóvel estacionado ao lado do seu.
- Como o senhor sabe que ele está morto? - perguntou o funcionário, fingindo indiferença.
- Porque uma pessoa com um furo na cabeça e roupa empapada de sangue não está dormindo sobre o volante, porra!
A palavra sangue tem, às vezes, um poder mobilizador maior do que a palavra morte. O funcionário saiu da cabine e olhou na direção apontada pelo homem.
- Não posso abandonar meu posto.
- Merda! Isto não é um navio! Chame alguém e telefone para a polícia enquanto tomo conta do carro.
- Tomar conta do carro, para quê? O senhor não disse que o cara está morto?"
"Tomou um banho demorado, desembrulhou um sanduíche dito natural, que estava na geladeira, abriu uma cerveja, esticou-se no sofá da sala e começou a pensar na morte, não na idéia abstrata de morte, mas em quanto tempo ainda teria de vida. Isso aos quarenta e dois anos, numa noite de sábado, num apartamento de solteiro em Copacabana. Concluiu que já estava morto. Foi dormir."
"Não gostava de outubro e não gostava de domingo. Outubro estava começando num domingo. Pior do que isso só se a segunda-feira caísse num domingo. A chuva recomeçara, e o melhor a fazer era esperar a hora do segundo talharim à bolonhesa."
"Nos filmes americanos, os policiais não ficam tão desamparados. O médico legista praticamente desvenda o crime para o detetive, este só tem que fazer uma perseguição espetacular pelas ruas de Nova York, São Francisco ou Los Angeles. Caso o legista falhe, há sempre a possibilidade de se enviar um fio de cabelo encontrado no local do crime para o FBI e no dia seguinte saberemos até por qual time de futebol seu proprietário torce. Aqui, neste aprazível Terceiro Mundo, o relatório do legista raramente informava se a vítima morrera por tiro ou por envenenamento."
"Saí dali refletindo sobre o paradoxo de confiar na informação que me seria dada por marginais do jogo do bicho e não confiar que essa informação fosse dada aos meus colegas de delegacia policial. O pior é que eu sequer sabia ao certo a extensão da minha desconfiança, mas uma das coisas que a vida na polícia me ensinou foi a desconfiar de
policial."