terça-feira, 29 de setembro de 2015

O deserto dos tártaros - Dino Buzatti

lAo alcançar o posto de tenente, o jovem Giovanni Drogo é designado para o Forte Bastiani, o que crê ser a primeira etapa de uma carreira gloriosa. A má impressão que tem ao chegar ao isolado forte o abala A espera pelo inimigo, que justifica a permanência do comando militar na região, transforma-se na espera por uma razão de viver, na renúncia da juventude e na mistura de fantasia e realidade. Militares apáticos vêem aos poucos seus sonhos serem minados numa rotina angustiante e alimentam a ilusão ou o temor de que um dia a batalha de suas vidas aconteça, quando os inimigos finalmente surgirem do deserto.
Fonte da resenha: Skoob
Trechos:
"Sentiu-se repentinamente sozinho, e sua empáfia de soldado, tão desembaraçada até então, enquanto haviam durado as experiências de guarnição, com a cômoda casa, com os amigos alegres sempre ao lado, com as fortuitas aventuras nos jardins noturnos, toda a sua segurança lha faltava de repente. Parecia-lhe, o forte, um daqueles mundos desconhecidos aos quais nunca pensara seriamente poder pertencer, não porque lhe parecessem odiosos, mas por lhe parecerem infinitamente distantes de sua vida rotineira. Um mundo bem mais exigente, sem nenhum esplendor além daquele de suas geométricas leis."
"... parecia tornar-se cada vez mais incerta com o tempo, os homens consumiam ali a melhor parte de suas vidas. Não haviam se adaptado à existência comum, às alegrias das pessoas comuns, ao destino medíocre; lado a lado, viviam com a mesma esperança, sem nunca mencioná-la, porque não se davam conta ou simplesmente porque eram soldados, com o pudor ciumento do próprio íntimo."
"... a uma certa idade esperar dá muito trabalho, não se reencontra mais a fé de quando se tinha vinte anos. Esperara em vão, durante tempo demasiado, seus olhos leram demasiadas ordenas do dia, por muitas manhãs seus olhos viram aquela maldita planície sempre deserta. E agora que apareceram os estrangeiros, ele tem a nítida impressão de que deve haver um engano (bonito demais para ser verdade), deve haver por trás disso tudo um colossal engano."
"Que necessidade haveria de dar uma última olhadela nas muralhas, nas casamatas, nas sentinelas te turno da borda dos redutos? Assim uma página lentamente é virada, passada para o outro lado, acrescenta-se a outras já findas, por hora é apenas uma leve camada; as que falta ler são, em comparação, um monte inesgotável. Mas é sempre uma outra página gasta, senhor tenente, uma porção de vida que se foi. "