terça-feira, 29 de setembro de 2015

A Fogo e a Tinta - Olga Colette

lUm cristão, Roberto Kilwardby, e uma judia, Myriam, um amor à primeira vista, ano 1237, França. Na intensidade do sentimento, os enamorados entregam-se à paixão proibida, mas logo a moça casa-se e muda de cidade, levando consigo apenas o sentimento e a impossibilidade de ser vivido. Encontram-se anos depois, continuam a estória, agora com Myriam viúva.
No prólogo, a estória inicia-se em 1273, quando a presença do filho do amigo Rogério, personagem do passado, desperta em Roberto, já Cardeal da Cantuária, as lembranças do passado, iniciando quarenta anos antes.
A intolerância religiosa presente na idade média, a vida eclesiástica, incluindo a homossexualidade no clero católico, são temas presentes no livro.
Vários personagens do livro são reais, passados para a trama num alinhavo ficcional, porém bem construído. Daí podemos citar Miguel Scot, tradutor em Toledo; Paula, uma romana que copiou manuscritos; Roberto Kilwardby, professor de Artes e Teologia, provençal dos dominicanos na Inglaterra em 1273, bispo da Cantuária e cardeal, morreu em 1273;  Rogério Bacon, um frade inglês que ensinou em Paris, entre tantos outros.
Em pesquisa, descobrimos que Olga Colette é um pseudônimo criado por duas duas historiadoras, Olga Weijers e Colette Sirat.
Trechos:
"Todos pensavam naquela mulher, já desfeita e que, naquele momento, ardia na fogueira, perante a multidão. Mestre Miguel rompeu o silêncio pesado, dirigindo-se a Rogério:
- É a primeira vez que assistes a um processo destes?
Rogério aquiesceu.
- E que ensinamentos retiras dele?
O jovem reflectiu longamente, antes de responder.
- A multidão! Aquela gente é dominada pela paixão e não pela razão. Acreditam em tudo o que lhes dizem e os inquisidores dizem-lhes coisas inverosímeis. - Na  origem destes acontecimentos está a noção do mal. Os filósofos acham que o mal é a ausência do bem mas a doutrina cristã faz do mal um ser vivo, real, constantemente presente na vida dos homens e chamam-lhe Satã, o Maligno, o Diabo. Às vezes, dir-se-ia que é mais importante do que o próprio Deus. Aqui, sobretudo, na Provença, onde a heresia apareceu e ainda subsiste, a Igreja defende-se do maligno com ferocidade. E tem de ser assim. Alguém que ponha a fé em dúvida representa um perigo para a ordem do mundo. Aquilo a que acabamos de assistir não tem defesa em termos filosóficos, mas era uma necessidade para a cidade."
"Só a bondade divina nos pode salvar. Temos de orar, com todo o fervor, a esse Deus que é o mesmo para os Judeus e para os Cristãos. Não é por ter outorgado uma nova Lei que Ele aboliu a antiga. Eu li, num filósofo, que Deus é Uno, o mesmo para toda a humanidade. As religiões são diferentes porque os povos são diferentes. Deus deu a cada povo a Lei que lhe convém, na sua própria língua."