segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Uma Casa no Fim do Mundo - Michael Cunningham

O livro é narrado pelos personagens Bobby, Jonathan, Alice e Clare.
Bobby e Jonathan se conhecem em Cleaveland ainda na pré-adolescência e desenvolvem uma amizade obsessiva, amorosa. Jonathan, desde a infância já mostrava traços de homossexualidade, percebido pela mãe, Alice, que dedicava-se a ele com devoção. Bobby nasceu em um lar desestruturado, o irmão morto em um acidente e, poucos anos após conhecer Jonathan, fica órfão e muda-se para a casa do amigo. Começa a viver os com pais dele, Alice e Ned, dedicando à culinária, arrumando a casa, fazendo-se útil e trabalhando numa padaria, enquanto o amigo foi para a faculdade, mudando-se para Nova York.
Os pais de Jonathan precisam mudar-se de Cleveland para o deserto, pela saúde de Ned e Bobby, que vivia satisfeito com aquela vida, vê-se obrigado a ter um novo rumo. Procura o amigo em Nova York, que vive com Claire, com quem tinha uma amizade de amor, sem intimidades, mas com troca de confidências, sem segredos e uma convivência harmoniosa. Bobby passa a viver com eles, inicia um romance com Claire, o que desestrutura o trio amoroso. Nessa época, Jonathan já tinha um romance com Erich, um barman que conhecera na noite.
Jonathan decide ir embora, deixando Bobby e Claire sós e só voltam a se encontrar no funeral de Ned, quando se juntam novamente. Claire grávida, o trio decide viver no campo e acolhem Erich, que reapareceu, portador da AIDS, e decidem cuidar dele.
Nessas quatro vozes, o autor não delimita personagem principal, dando um cunho psicológico, traçando o perfil claro de cada um, quando em sua primeira pessoa.
O livro fala sobre homossexualidade, conflitos familiares, AIDS, relações fora do contexto social convencional.
Também há a presença musical, quando retrata a paixão dos personagens pela música, ai lemos cantores memoráveis como Hendrix, Bob Dylan, Van morrison, entre outros, fazendo parte da narrativa, quando preenchem os espaços divididos com títulos e álbuns que conhecemos.

"Não queria ser o monstro da casa - a mãe implicativa, a esposa frígida. Repeti as promessas a mim própria e só consegui adormecer quando a primeira luz tingiu as janelas de azul.
Jonathan persistiu no seu fascínio por Bobby, que se tornou uma presença habitual à nossa mesa. Ned tolerava-o, porque a tolerância fazia parte da natureza dele. Ned mantinha uma zona de ar neutral entre si próprio e o mundo, de modo a que tudo lhe chegasse filtrado e rarefeito. Era eu que mantinha a vigilância. Bobby não parecia ter outros planos. Estava sempre disponível. Nunca convidava o Jonathan para casa dele, o que pouco me incomodava, se bem que me suscitasse algumas dúvidas."


"Não éramos amantes, mas quase. Ocupávamos a esfera superior do amor, onde as pessoas acarinham a companhia e excentricidades umas das outras, onde se querem bem. Uma vez que não éramos amantes no sentido carnal do termo, não tínhamos utilidade para os pequenos crimes. Clare e eu partilhávamos os piores segredos e os mais absurdos temores. Jantávamos juntos e fazíamos compras, avaliávamos as qualidades dos homens que se cruzavam connosco nas ruas. Em retrospectiva, diria que éramos como as irmãs das histórias  tradicionais; as histórias em que a irmã mais nova e mais bonita não pode casar enquanto ninguém reclamar a mais velha e menos atraente. No nosso caso,  contudo, éramos ambas as irmãs ao mesmo tempo. Partilhávamos uma vida de roupas, mexericos e auto-análise. Esperávamos, sem particular urgência, que alguém nos reclamasse para o outro, mais terrível, tipo de amor."

"Eu queria uma vida estável e uma vida escandalosa. Pensem em Van Gogh,
ciprestes e pináculos de igrejas sob um céu de serpentes contorcidas. Eu era bem a filha do meu pai. Queria ser amada por alguém como a minha severa, judiciosa mãe - e queria atravessar as luzes aos gritos com uma garrafa na mão. Era essa a maldição da família. Tendíamos a alimentar rebanhos de desejos tresmalhados que se entrechocavam e se anulavam uns aos outros. A maldição implicava que, se não aprendêssemos a orientar os desejos em determinada direcção, o mais provável era acabarmos de mãos vazias. Olhem para o meu pai e a minha mãe hoje."

Michael Cunningham
Michael Cunningham
Nasceu em Cincinnati, Ohio, e cresceu em Pasadena, California. Estudou Literatura Inglesa na Universidade de Stanford, onde se graduou. Mais tarde, foi premiado com o Master of Fine Arts (Mestre das belas artes), graduação do Workshop de escritores de Iowap. Enquanto estudava em Iowa, teve algumas histórias públicadas na Atlantic Monthly e na Paris Review. A sua história "White Angel" (Anjo Branco), do seu romance A Home at the End of the World (Uma casa no fim do mundo) foi incluída no "The Best American Short Stories, 1989," (Os melhores contos norteamericanos) publicado por Houghton Mifflin.
Em 1993, recebeu uma Bolsa Guggenheim, em 1995 recebeu o Prémio Whiting e em 1998 foi-lhe atribuída uma Bolsa do Fundo Nacional para as Artes. Cunningham leciona no Centro de Trabalho das Belas Artes em Provincetown, Massachusetts e no Programa MFA da Faculdade de Brooklyn.
Apesar de Cunningham ser gay e estar com o mesmo parceiro há 18 anos, o psicanalista e artista Ken Corbett, ele não gosta de ser chamado apenas de "escritor gay", de acordo com um artigo da PlanetOut porque, enquanto ser gay exerce grande influência no seu trabalho, ele sente que isso não é (e não deve ser) a característica que o define.
As Horas estabeleceu Cunningham como um dos mais fortes escritores norteamericanos, e o seu romance mais recente, Specimen Days, foi igualmente bem recebido pelas críticas norteamericanas. Cunningham editou um livro de poesia e prosa de Walt Whitman, Laws for Creations, e foi co-escritor, com Susan Minot, de uma adaptação televisiva do romance de Minot, Evening. Ele também é produtor do filme de 2007, Evening, que estrelou com Glenn Close, Toni Collette, e Meryl Streep.[Fonte: Wikipedia]