segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A mãe - Gorki

À parte minha paixão pelos escritores russos, louvável e magnífico o livro "A Mãe", escrito em 1907 por Maximo Gorki (1868 - 1936).
Ambientado no início do século XX, período em que fervilhava o socialismo na Rússia, a revolta dos operários, dos camponeses, quando a fome e a miséria imperava, o livro faz um relato surpreendente e atual sobre o nascer da ideologia.
A mãe é Nilovna, muito citada como "a mãe" simplesmente, mulher iletrada, que sofria pelos maltrados do marido, que a surrava quase diariamente, e, com a morte desse, volta-se a atenção ao filho, Palov Vlassov. Observa que o filho torna-se introspectivo, lia muito, recluso. Logo descobre que ele está envolvido com causas operárias, ao Partido Social Democrata, o que a oprime , pelo temor ao destino e desatino do filho. Resignou-se, acompanhando as reuniões dos "camaradas"  em sua casa.
Começa a prestar atenção ao que dizem, acolhe um deles em casa, como filho,  e compreende a força que aqueles jovens possuem, a paixão com que falam das causas que defendem.  Interessa-se em aprender a ler, a ouvir mais atentamente o que debatem, acompanha a escalada do filho como líder. E  torna-se um membro ativo da revolução, a "mãe de Pavel", propondo-se a trabalhos feitos pelos demais, como distribuição de panfletos, levar e trazer mensagens, discursando.
A mãe analisa todos, ama cada um como filho, compreende as injustiças. A mudança se opera desde sua crença religiosa até a visão da sociedade e da miséria humana. Isso tudo numa análise de um coração de mãe. Não abandona a crença em Deus, mas não é a mesma fé inquestionável, oprimida, já pensa por si, constrói sua própria crença, baseada no conhecimento que adquire durante a narrativa.
Um livro surpreendente, mágico!
Algumas passagens:
"Como água turva, escoava igual e lenta, ano após ano; cada dia era feito dos mesmos hábitos, antigos e tenazes, de pensar e agir. E ninguém experimentava o desejo de tentar modificar alguma coisa."
"E no fundo da sua alma, perturbada pela ansiedade da espera, brilhava, fraca mas viva, a chama da esperança de que não poderiam levar-lhe tudo, arrancar-lhe tudo! Ficaria sempre alguma coisa..."
"Agora lia bem, mas a leitura exigia-lhe uma grande atenção; cansava-se por isso depressa, deixava de compreender o sentido das palavras."
"A vida alargava-se até o infinito, revelava-lhe todos os dias coisas majestosas, extraordinárias, belas e devido à abundância das suas riquezas, à infinidade das suas belezas, excitava cada vez mais a sua alma ávida que despertava."
"As pessoas andam de um lado para o outro, não sabem nada, não conseguem ver nem admirar nada, nem têm tempo nem desejo para isso. Que alegria a delas se soubessem como a Terra é rica e quantas coisas espantosas há nela. E todas as coisas são de todos e cada um de nós foi feito para essas coisas, não é assim?"
"A mãe desejava cada vez mais, um desejo por vezes difícil de reprimir, falar às pessoas, falar-lhes das injustiças, da vida..."