segunda-feira, 28 de setembro de 2015

As intermitências da morte - José Saramago

O que dizer de um livro onde a personagem principal é a morte?
Ano novo, em um país imaginado pelo autor, as pessoas deixam de morrer. O Governo (como é particular de todo Governo) acalma, dizendo que não há motivos para alarde, que nomeará uma comissão para analisar o ocorrido, reuniões, etc... Se morrer seria motivo de crise, deixar de morrer seria alarmante? Paradoxo. Aí entra a onda de patriotismo, alegria, crise dos agentes funerários... Até a não morte tornar-se um problema. Os doentes se acumulam nos hospitais, a rainha-mãe não morre para dar lugar ao novo rei... E o papel da Igreja? Pedem a Deus que mandem de volta a morte! Vão à fronteira do país para que os doentes terminais parem de sofrer, cria-se o tráfico de doentes para a morte (a "máfia"). Situação delicada com os países vizinhos...
Até que a morte toma forma, dando outro rumo ao livro. Nesse ponto, particularmente (opinião própria, claro!), o livro perde um pouco a característica, o brilhantismo do início. As pessoas são avisadas por carta a data de sua morte, até que a carta a um determinado habitante sempre volta, a morte não consegue entender o motivo. Daí... daí leia o livro para saber a resposta!
Apesar da pontuação louca, ausência de letras maiúsculas, vale a pena ser lido.
Bem ao estilo Saramago, naquela forma ininterrupta de escrever, como se fosse num fôlego só.
Simplesmente surpreendente, empolgante.
Frases:
"A religião é assunto da terra, não do céu"
"A Filosofia precisa da morte tanto quanto a religião. (...) Filosofar é aprender a morrer"
"As religiões não têm razão para existir que não seja a morte. É para isso que existimos. Para levarmos todo o tempo o medo pendurado no pescoço e, chegada a hora, olham a morte como uma libertação"