segunda-feira, 28 de setembro de 2015

1934 - Alberto Moravia

Lúcio, intelectual italiano, procura conviver com seu desespero. Na frase incial do livro, lê-se "É possível viver no desespero sem desejar a morte?". A caminho da ilha de Capri, conhece Baete, que viaja com seu marido Alois. Com troca de olhares, descobrem o desespero e a desesperança mútua, uma identificação que fascina  Lúcio.
A angústia existencial que acompanha o livro e alimenta o espírito dos personagens tem como ambiente o recrudecimento do nazismo e fascismo, tendo um retrato social e político da época.
Baete procura a morte a dois, baseando-se na vida do escritor Kleist, que cometeu suicídio com sua amante Henriqueta Vogel. Enxerga em Lúcio a possível companhia que a levasse ao ato que tinha como objetivo.
Surge em Lúcio a obsessão pela figura de Baete, então conhece sua irmã gêmea Trude e sua mãe Paula.Daí a história desenvolve um enredo de (des)construção de personagens, cabendo a Lúcio definir quem interpreta o papel verdadeiro.
Um bom livro. Boa leitura.
Passagens:
"...vivia obcecado pela idéia de 'estabilizar' o desespero. Sofria de uma forma de angústia que consistia em não esperar nada, nem do futuro imediato, nem do mais longínquo; meu pensamento acariciava frequentemente a solução do suicídio, fosse como libertação da angústia, fosse como saída lógica e inevitável da falta de esperança"
"Kleist não queria mais viver porque não esperava mais nada nem para ele nem para sua pátria; mas não descartava a possibilidade de que, um dia, depois de sua morte, a esperança talvez retornasse à Terra: seu suicídio era de impaciência."
"Eu não gostaria realmente de viver sob o fascismo; mas não gostaria realmente de viver em tempo algum no futuro porque estava convicto, absolutamente convicto, de que a esperança de um mundo melhor não era mais que engano ou ilusão."
"Tenho absoluta certeza de que a condição normal do homem deveria ser o desespero. Um desespero tão natural quanto o ar que respiramos. A única diferença é que respiramos sem ter consciência. Mas não podemos deixar de ter consciência de estarmos desesperados."
"Enquanto há desespero, há vida(...). Os problemas aparecem com a esperança. Não conhece o proverbio do seu país: 'quem vive esperando morre desesperado?'."